120 bpm

Fica aqui dentro de casa porque tá frio e bom para dormir com segurança. Saber que por infinitos segundos dois sorrisos serão apenas um fingindo estarem em corpos diferentes que, infelizmente, em muitas partes do tempo são distantes e duas unidades isoladas. Aquela sensação que você não sabe desenhar porque nunca ouviu uma descrição correta, mas entende perfeitamente quando sabe que tá bom enquanto se está deitado e o lençol é vinte e oito vezes mais agradável que a vida e lembra que, diferente de mil cento e noventa dias anteriores, neste dia, você pode ficar o tempo que quiser na cama. Sabe exatamente o que sente nessa hora, mas nunca vai poder descrever com plenitude as cócegas no seu coração. 
Sabe, também, que o conjunto dessa melodia barata foi o empurrão mais eficaz para todas as dores anteriores, mas nem lembra que dor dói. Consegue imaginar o cheiro, mas ainda nem lembra o timbre ou todos os traços do rosto porque ainda não passou dezessete anos ao lado do complemento do seu pulsar cardíaco. 
Sabe e conhece tragédias que só têm a ver com o tempo. Como se estivessem estabelecido um padrão temporal para que alguma coisa passe a ter existência ou valor. Mas reconhece que, no fundo, às vezes, três segundos são mais válidos que dez anos e aí tenta pensar em "que besteira de gente que acabou de se apaixonar", mas sabe que já concordou com isso por algum segundo ou, então, se não, provavelmente algum dia irá. A menos que sejas uma planta. 
Eu queria tanto dizer que eu ainda tenho os pés totalmente de chumbo e que a dificuldade de escorregar quando não se está em movimento é quase nula, mas eu só queria dizer isso para depois me olhar em qualquer superfície espelhada e me garantir que eu já sabia. Mas eu já disse quinhentas vezes que eu não sei, não. Eu realmente nunca sei.
Então, levitemos. Um ciclone nos derrubaria mesmo com a mais perfeita precisão de posição exata sobre os pés para o mais incrível equilíbrio. Sinta-se em casa porque você vai poder, sim, dormir até tarde.


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