Retrocesso

Nos dois segundos em que seus olhos encontram os meus, fui à Espanha. Pelo motivo de ter um caso mental com Barcelona. Porque Bea era de lá. E porque gostei dela, que namorava o protagonista (dele, esqueci o nome) de um dos melhores livros que já li. Se o material do copo em minha mão não fosse tão resistente, ali eu teria sangue entre os dedos. Por ter quebrado. Por ser a única coisa que podia me segurar à realidade: um copo de vidro. Igual ao seu. Igual ao que estava entre sua boca e a parte inferior do seu olhar nos dois segundos do gole que você deu e me viu. Assombrado para o resto da noite, preferi ir para casa no segundo seguinte porque sabia que você jamais ia querer casar comigo. Não por eu ser eu. Mas por você ser você, sendo lá quem fosse. E, no caminho, pensei em toda a vida que eu ainda ia ter. Que eu ia ter sem você. Decidi que ia parar de pensar em uma estranha assim que chegasse em casa. Antes de entrar, para ter sucesso, claro. Não quis chegar perto para correr o risco de ter que dar tchau. Não conseguia imaginar me despedir sem morrer. Não de você. Toda a bondade e maldade em um par de olhos de tédio. Quando cheguei à minha porta, não consegui ver a cor dela porque antes dela tinham seus olhos e um abismo que me sugou. Só então eu lembrei quem você era de verdade e o motivo de ter esquecido.


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