O ciclo da desimportância de causas forçadas a não serem forçadas

Observei de longe você batendo em minha porta e só sorri internamente com a sensação de "eu sabia que esse pulso ia movimentar-se em minha procura". Fingi que não vi e saí de cena. Fingi porque não me importei. De verdade, eu não tinha a intenção de me fazer ser da situação. 
Algumas horas mais tarde, você continuava em minha porta mesmo sabendo que eu já tinha te visto. Comecei a comer um bolo de pão espetacular enquanto observava você do outro lado da parede com nenhuma disposição grande de tomar um chá ou algo do tipo. Acho que nem sabia, de fato, que estava em minha porta. Você já comeu bolo de pão? Coma. Coma muito! Eu podia ter me concentrado em mastigar, mas minha cabeça preferiu pensar em você, em quando você estava do lado de cá da porta, nos tempos em que, no lugar da porta, eu aguentava seu pulso. 
Quando a gente, caracterização do eu-e-você, tínhamos pulso. Quando batíamos nessa vida. Em nossas vidas. Quando nossas rotinas brincavam de andar de mãos dadas com a força de uma cola mágica que pregava mais a cada vez que alguém tentava separar. 
Comendo o pão sem lembrar que estava comendo o pão, pensei na doença que é viver em ciclos. Tento quebrar ciclos de uma forma que torna-se um ciclo: minha tentativa de romper ciclos é um ciclo. Tentei ver quantas vezes você bateu na porta e eu abri com toda a educação do mundo só para romper um ciclo que é o de te manter em um ambiente que não o meu. Se eu abrisse a porta, você pedisse desculpas, eu aceitasse e fôssemos civilizados, então nosso ciclo acabaria. Estaríamos em vidas distintas, mas mantendo a educação. Mas não foi uma vez, nem só três.
Aí o pão caiu na minha cara, me fazendo lembrar que eu já fui educada antes e que eu ainda sou, mas que, mesmo assim, você insiste em bater na porta porque sabe que eu vou abrir por ter a certeza da minha educação. Eu estou toda suja de um molho de bolo de pão porque fui pensar em educação para alguém que não teve isso comigo. Eu não preciso perdoar o mundo inteiro e muito menos abrir a porta para qualquer pessoa só por educação. 
Eu, sinceramente, nem vejo beleza em você e não sei o que diabos deixei entrar em minha cabeça a cada vez que abria a porta. Esse pão na minha cara me fez notar que algumas coisas simplesmente são ruins e pronto. Nem tudo é bom, nem tudo tem a porcaria do lado bom ."Oh, meu Deus, tudo tem um lado bom", não, não. Dane-se, você foi ruim demais para mim e fim de pensamentos menos importantes que um bolo salgado. Se eu não pretendo que você esteja no meu futuro nem vice-versa, porque vamos nos forçar a estar por perto (por educação) no presente? Não vamos. Não vou. Hoje não tem educação, não. Desculpa. Aliás, não me desculpa, não.




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