Uma noite de um dia útil

Você está falando sobre rasgar dinheiro. Eu não suporto gente que fica conversando sobre dinheiro. Seja a falta ou o excesso dele. Só consigo pensar nas bactérias e em quanto tempo é perdido ao falar de uma coisa tão chata e que não merece virar assunto em encontro de filme, de bar, de calçada, de cama ou de igreja. Não converse comigo sobre isso a menos que queira que eu desça sua nota no meu bloco de notas-de-cada-pessoa-que-eu-conheço. Aí você pode falar à vontade. Você continua falando sobre dinheiro no meio de pessoas que andam para lá e para cá como se estivessem perdidas. Pessoas chatas que vestem a roupa mais bonita para sair em uma noite de um dia útil para andar no meio das lojas. Que desinteresse por elas! E o quão mais interessada eu estou nelas do que nessa sua conversa de gastar, ganhar, achar, perder, dar e engolir dinheiro. Para. Para, cara. Enquanto você continua falando de dinheiro e vai mudando para bandas que acha que eu gosto porque eu tenho cara de quem gosta por andar com quem gosta, mas que no fundo eu não escuto nenhuma delas, eu entro em um diálogo sincero comigo para entender o que raios me tirou de casa em uma noite de um dia útil para ouvir você falar um monte de besteiras. Todo mundo fala um monte de besteiras. Verdade. Mas eu gosto de algumas pessoas pela possibilidade que elas já me deram de dizer que o assunto está besta e pedir para falarem de outra coisa. Você não me deu essa possibilidade porque em mais de 730 dias, eu só te vi em dois dias. E nem foram seguidos. E o intervalo nem foi em menos de 365. Que direito eu tenho de pedir para você falar de alguma coisa menos anormal? Nenhum. Aí você escuta minha cabeça e começa a falar de coisas legais. Que triste, a noite não vai acabar triste. Aí eu noto que você é bonito demais, meu Deus do céu. Você é tão bonito que por isso eu deixo você falar sobre dinheiro e sobre um monte de chatice. Porque, além de um rosto perfeito, você tem a pele do meu filho que ainda não nasceu. Que pele linda. E mais clara que a minha. Eu posso ouvir você falando besteira porque isso me deixa notar a beleza da sua cara. Mas eu não vou me apaixonar por você, que droga. Você não tem o dom de falar tanta besteira como meu melhor ex. Porque o dom dele transforma as piores besteiras nas melhores coisas de se ouvir. E você não caminha como ele. E você não é ele. E ele não está entre essas pessoas perdidas porque já procurei em cada uma. Mas, tudo bem, sua cara é bonita, então, caminhemos, vamos!


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