As reações sobre a promessa de importação de
médicos
Em resposta à onda de manifestações que se espalhou pelo país desde a
semana passada, a presidente Dilma Rousseff fez um pronunciamento na noite da
última sexta, 21, em rede nacional, que durou cerca de 10 minutos, enfatizando
as áreas de transporte, saúde e educação.
Durante o discurso, anunciou que um dos focos será “trazer, de imediato, milhares de médicos do
exterior para ampliar o atendimento do SUS” o que gerou reações bem opostas na
população.
Ricardo Matos, estudante de medicina do 6º período na UFMA, mostrou seu
ponto de vista:
“A mesma presidenta que vai me manter por
um tempo na Alemanha estudando Medicina, é aquela que vai entupir nossos
hospitais com médicos estrangeiros, que não conhecem a nossa população, que não
estão familiarizados com os tratamentos das doenças endêmicas do nosso país e,
pior, que não tiveram a mesma formação de
‘qualidade’ que estamos nos esforçando pra ter. A solução, Excelentíssima, não
é ‘tapar o sol com a peneira’, como intencionas... Necessita-se, com urgência,
melhorar a qualidade do SUS que você tanto defende. E isso, com certeza, não
será conseguido com importações desnecessárias. Temos médicos suficientes, sim!
Mas estes precisam sentir-se motivados (entenda que não é só de salário que
estou falando. Necessita-se de hospitais de qualidade, materiais para
procedimentos, etc.) para adentrar-se no ‘interiorzão’ do seu, do nosso país.”
Segundo o Diário de Pernambuco, o Simepe (Sindicato dos Médicos de Pernambuco)
está organizando uma paralisação para a próxima terça-feira. A decisão foi
tomada após o pronunciamento da presidente. Mário Jorge Lobo, presidente do
Simepe diz que “As entidades médicas não são
contra a vinda de médicos formados no Exterior, desde que realize a prova de
revalidação de diplomas desses profissionais (Revalida) para fazerem um
atendimento de qualidade. [...] O problema não é número de médicos e, sim, a falta de políticas públicas
para fixar esse profissional em pequenas cidades.”
Há quem ache que o Brasil esteja muito carente de profissionais nessa
área e que a decisão foi uma ótima medida para os interiores do país,
entretanto, é necessário saber se essa medida vai sair melhor que uma reforma
nas estruturas dos hospitais e das faculdades de medicina do país. Se é o curso
mais concorrido, é devido a alta procura da população com interesse na
profissão. A solução, entretanto, não seria apenas aumentar o número de vagas,
pois dessa forma, a qualidade tenderia cair. Seria necessário, antes, um ajuste
nas estruturas do ensino.
Do outro lado, estudantes defendem a medida:
“Se considerarmos o estado do Ceará, por
exemplo, veremos uma maior quantidade de médicos na capital em relação ao resto
do estado. Enquanto
Fortaleza tem uma taxa de 3,16 médicos para cada mil habitantes, no interior a
situação é pior, de 0,003. Nos anos 90 se iniciou uma campanha de aumento de cursos de medicina
no país, o que foi intensificado, também, na última década com a interiorização
das universidades, porém, o que percebemos é que nem mesmo a interiorização
alterou o quadro: Alguns médicos mesmo se formando no interior migram para a
capital no final do curso. Nem mesmo as altas pretensões salariais das pequenas
cidades do sertão central surtiram efeito. Essa é só mais uma medida que tenta
por fim a isso, os médicos ''importados'' serão direcionados para cidades do
interior e comunidades carentes. É claro que concordar com essa medida não
fomenta que não é necessário leitos ou hospitais de qualidade, e sim na
necessariedade de médicos que aceitem trabalhar em comunidades.” Bruno Sales,
estudante de Administração Pública do 2º período na UFC.
“Os médicos, em geral, não querem ir para as cidades
dos interiores do país e, quando vão, exigem salários altos para trabalhar
poucos dias da semana. Com a vinda dos médicos do exterior, os dias que faltam
médicos nos hospitais serão preenchidos e não faltará atendimento para
população.” Ygor Oliveira, estudante de Direito do 1º semestre na FAP.
Pretendendo unir a nação em causas que estavam sendo gritadas, o
pronunciamento da presidente gerou mais uma onda no país, mas, dessa vez, de
opiniões contrárias.
(23/06/2013)
Comentários
Postar um comentário