Aterosclerose x Câncer

Com força, empurramos com os peitos dos pés qualquer coisa que tenha cara de que vai entupir nosso sistema cardiovascular. Sou fascinada em ler os textos de uma mulherzinha que conta sobre os seus casos, mas ela é tão intensa em falar de ausência que, com impulso, empurrei ela hoje do mesmo jeito que a gente empurra os pés na parede de uma piscina: para irmos para longe. Longe, longe... Isso não significa que eu queira estar longe dela, mas, sim, do semblante original que entope minhas artérias, o qual aparece nas frases dela. Um rosto que me causa isquemia por todas as direções, sendo a menor aquela que vem do próprio punho fechado na minha cara. Com a real ou abstrata (em meu delírio) inocência de eu ser um elemento cotidiano simples e com uma cabeça clara. Mas eu não sou amiga de LDL. Em linha reta, em linha de soco, parece que dói menos. Deve parecer porque a dor deve ser tão gigante que não cabe em mim. Por outro lado, se opto por parar de levar as coisas em linha reta, no centro da face, a dor parece ficar um milímetro menor do que tudo que já fui e que serei, e isso é muita, muita coisa, no entanto, com um milímetro a menos, eu consigo comportar, dessa forma, ela se hospeda em mim como uma metástase demoníaca. Não sei o que é pior. E ninguém pode saber em meu lugar. Adoraria voltar a dormir a qualquer hora, poder ler ou assistir qualquer coisa sem precisar ter um infarto. Antigamente, eu não entendia porque algumas pessoas dormiam com a televisão ligada e ontem eu entendi: dá medo encarar um silêncio escuro onde não ocorrerá um milagre de materialização humana. 





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