Tocando minha sobrancelha a cada meio segundo, sinto um pelo em pé demais, como se tivesse em mãos uma placa de "me arranque", no entanto, estou no meio de assuntos literários nacionais na tentativa de colá-los ao máximo em minha memória, mas não consigo não me levantar, tenho a sensação de que se eu não me levantar, alguma bomba de urânio vai cair por aqui.
Então, me levanto.
E para maior indignação, não acho mais o pelo. Saio do espelho, mas pego uma caixinha de maquiagem que tenha um espelho menor e levo com a pinça junto para a mesa, pois sei que a sensação horrível de que o pelo manda em mim vai voltar.
E volta.
E arranco.
Sinto-me impotente em relação a algumas coisas no nível mais doentio que possa existir e eu possa usar. Tem uma agenda na mesa vizinha à mesa que estou agora que eu não sei o motivo de ter comprado ela. Não sou compulsiva em comprar nada, antes que essa seja sua sugestão, aliás, eu mal compro alguma coisa pelo motivo de que eu mal piso na calçada da minha própria casa e não sinto necessidade de fazer compras virtuais. Enfim, esse não é o meu problema.
Não é um dos.
Um dia antes de comprar a agenda, eu tinha um enorme motivo de comprá-la. A única coisa que lembro era que o motivo era tão grande que parecia que minha vida seria destruída se eu não comprasse.
Comprei.
Duas folhas riscadas até hoje.
E pior: é uma agenda permanente. O que talvez signifique alguma coisa.
Faço uma lista de obrigações que nem sei se estão ao meu alcance, mas, ao mesmo tempo, meu cérebro faz uma lista de desgraças que acontecerão caso eu não as cumpra. Invento qualquer coisa e dessa invenção surge um monstro que sorri para mim com dentes que gritam que vão me comer a qualquer hora se eu não fizer, ou se eu fizer, ou se, ou se, ou se.
Essa noite tive um sonho, mas diferente da Paula Toller, eu não vou te contar. E o motivo de eu não contar é querer que aconteça o que aconteceu. Não sei se vai acontecer só porque eu sonhei. Acho muito que não porque eu ainda devo ter uma parte sadia na cabeça.
Uma grande parte sadia, espero.
Mas essa conclusão deriva de que todos os meus sonhos macabros e ruins foram contatos. Ou tentei contar todos. E isso porque um dia, há uns quinze anos atrás, aprendi que quando a gente não conta os sonhos, eles se tornam mais fáceis de acontecer. E eu não desejo que demônios me amarrem ou que minha mãe morra ou que eu mate alguém ou que eu seja traída. Uma vez, sonhei que estava sendo traída. Não contei nada a ninguém por considerar estúpido, não o sonho, mas o ato de contar. Menos de 24 horas depois de sonhar, fui traída. Isso ser incrível ou não é algo que vai depender de você acreditar ou não.
Se eu não der quinhentos pulos, vou me odiar para sempre. Se eu não tentar aprender de uma vez os números de linkage, não terei os pontos necessários para isso ou para aquilo. Se eu não passar a noite acordada, nunca vou ser forte. Se eu não conseguir prender a respiração por x segundos, minha vida será sempre a mesma. Se eu não tomar líquidos em goles múltiplos de seis, muita coisa vai dar errado. Se eu não ajustar as sílabas de um texto ou de uma conversa em múltiplos de cinco contando nos dedos, meus dedos vão explodir.
Se eu consigo analisar tanto assim essa bagunça tão perturbadora que é a minha cabeça, por que eu não consigo arrumá-la?
Eu tenho dessas loucuras também.
ResponderExcluir"Se eu não conseguir prender a respiração por x segundos, minha vida será sempre a mesma."
Se eu não tomar líquidos em goles múltiplos de DOIS, muita coisa vai dar errado.
Se eu pisar nos ligamentos entre os blocos de concreto das calçadas da praça meu dia estará perdido.
Esse final. "Se eu consigo analisar tanto assim essa bagunça tão perturbadora que é a minha cabeça, por que eu não consigo arrumá-la?" 10/10