Dancinha do tempo

Eu tenho um medo agressivo de estar parada em relação à vida. 
Em relação à minha vida, claro. 
Tenho medo de ser impaciente como a minha mãe e tenho medo de que alguém tenha medo de mim como eu tenho medo dela. Tenho medo de estar presa aos meus treze anos porque eu tenho vinte e ainda choro com qualquer coisa que ela grite. 
E ainda escrevo um monte de textos para pessoas que moram na minha cabeça, mas que já bateram várias portas em minha cara. 
Eu tenho medo porque, às vezes, me sinto uma Benjamin Button da cabeça: ontem eu não sentia nada por ninguém, hoje eu tô morrendo há meses por uma pessoa que como uma amiga disse "ainda não tem idade nem para beber cajuína", só que se ele não tem essa idade, então, devo ter a idade proibida de parar de beber leite materno. 
Mas ontem eu tinha idade para beber mais cana que muitos homens que já têm idade para ser avô. 
Só que não sei de onde tirei que idade avançada nos permite não gostar dos outros ou nos entregar só com o dedo mindinho. Eu taquei a cabeça no chão de novo, notei. Mas isso não é coisa de quem tem idade de brincar de boneca. Bem, eu acho que isso não tem nada a ver com idade, não. Quanto tempo eu ainda tenho para tacar mais outras mil vezes a cabeça? Provavelmente vou refazer isso assim que o sangue parar de descer. 
Então, eu começo a ter medo de ser louca porque eu ainda quero, e quero muito, cuidar de loucos. Eu ainda vou ser a porra de uma psiquiatra, portanto, não posso surtar, então, volto a ter medo de estar andando para trás porque é melhor que ser louca. 
Mas andar para trás é pior que estar parada. 
E eu tenho a porra do enorme medo de estar parada porque eu vejo gente que nasceu bem depois de mim já tendo filhos e casando e tendo uma vida. 
Por que eu tenho medo disso?
Eu não queria estar casada, muito menos tendo filhos... mas queria muito estar vivendo. 
Só que o que diabos é estar vivendo? 
A desgraça de saber o que quer e o que não quer é encarar o lado mais perturbado da vida que é o nada. Eu não tenho problema nenhum nessa vida e fico achando que isso é anormal, querendo, por fim das forças, que qualquer coisa seja um problema só para que eu me sinta normal. Eu sou a pessoa mais sortuda do mundo por saber o que eu quero e saber quem eu sou. 
Porque eu sou insuportável mesmo. 
Mas sou insuportável para quem ainda não tem idade de beber cajuína. Quem ainda não se sustenta nas próprias pernas não consegue me suportar mesmo. 
Não tenho uma energia negativa e muito menos a minha mãe. E eu não sou a minha mãe, mas bem que eu queria. 
Bem que eu queria ter o dom de fabricar a porra de uma pessoa tão sortuda como eu. 
E eu gosto de mim, sim. E estou doente de paixão por mim mesma, graças a Deus. E graças a mim. 



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