A minha qualquer intenção não vai causar impressão

Quando meus olhos dançaram no escuro, uma lágrima e meia escorreram pela minha pele, que é mais clara que a sua, isso fez com que você me beijasse, e embora isso pareça uma cena de um filme batido, era uma cena no meu quarto, nada parecida com cenas onde as lágrimas desciam dos seus olhos e eu não te beijava, essas cenas pareciam de filmes melhores produzidos, daqueles que esfaqueiam a alma, mas beijar por piedade também esfaqueia a alma, pelo menos a minha. 
Não tem você nunca mais para notar no escuro, e fingir que não está notando, a uma lágrima e meia, que na maioria das vezes, ultrapassam números perfeitamente inteiros, suficientemente grandes para minha cabeça explodir. Minha cabeça sempre vai doer quando eu chorar demais. 
Sei exatamente quanto tempo faz, mas minha loucura me controla vez ou outra para não contar nos dedos os meses que a falta mora comigo no seu lugar. Não vou mentir que te substituí por filmes, músicas, seriados, livros, números, aulas e até por mim, isso mesmo, eu me coloquei no seu lugar de todas as formas que minha mente permitiu e na maioria delas eu também não apareceria por aqui se fosse você e se você fosse eu. De forma nenhuma eu me perdoaria se eu fosse você, e se você fosse eu. Mas teve a minoria, também, em que eu não te beijaria por dó ou por qualquer coisa parecida, ou até mesmo como já disseram "só para testar se ainda existia alguma coisa", eu não faria uma coisa dessas. Talvez por isso as cenas onde você chorava, e eu não, eram mais próximas de uma melhor produção cinematográfica do que as cenas opostas. 
Gostaria de me perdoar por ser tão minúscula e não ter espaço suficiente para ter deixado você ficar na hora certa. 
Existe uma luta interminável dentro de mim entre a necessidade de implodir e cuidar e a de explodir e ferir e, como elas não cabem juntas, cada pessoa chega na sorte de me encontrar em um dos dois momentos onde ou eu mesma estou me machucando ou distribuindo golpes dolorosos. 
Gostaria muito de me perdoar, mas eu não me perdoaria se eu fosse você e parece que nessas horas eu não sei mais ser eu mesma. Só sei ser você. 
Não consigo tirar você do pequeno espaço que sobra da minha cama que ainda nem é de casal. 
Não sei o motivo de falar "ainda", pois provavelmente eu nunca vou querer uma. Não pretendo entrar em espaços maiores onde vai sobrar mais ainda para você e você vai continuar sem aparecer. 
Gostaria tanto que você me perdoasse e me segurasse pelos braços me mostrando o quão perturbada é minha cabeça e que você não ia sair dali mesmo se eu mandasse. 
Mas eu mandei. 
E você me obedeceu. 
E eu nunca quis alguém que me obedecesse, mas essa parte você nunca entendeu. 
Agora não tem seu cabelo chato no meio superior da sua testa e seus olhos desviados para cima para tentar olhar e eu achar tudo isso estranho demais e pedir para você parar. Quer dizer, tem eu aqui, sim, tem eu em todos os lugares. Pelo menos agora você não para nunca mesmo que eu peça. Quando eu pedia, não queria que você parasse, mas você, às vezes, parava. 
Não tem você insistindo para eu ter "animação" mesmo sabendo que essa é uma coisa que eu jamais teria, mesmo que, às vezes, eu parecesse ter. 
Mas ainda tem eu com um caderno que você nunca viu e que não sei porquê passa na minha cabeça que é para você já que uma parte de mim e o resto do mundo se vestem com a certeza de que já era e já era faz tempo. 
Ainda tem eu sem nem saber mais com o que me remediar, achando que a cota  de relacionamentos acabou e parando, de vez em quando, de achar, para ter a plena certeza de que se não foi com você, já era também e já era faz tempo. 
E ainda tem sua blusa, mas já não tem teu cheiro e muito menos qualquer indício do dia da chuva que provavelmente você nem lembra mais. Ou talvez lembre o dia, mas não lembre meu nome. Ou talvez lembre de tudo e maldiga cada segundo. Ou talvez nada.
Eu sou errada demais por dentro e por fora e gostaria que você me perdoasse por isso para que eu pudesse me perdoar também. 
Se você soubesse de tudo isso... Então... Então, na verdade, nada, porque provavelmente você sabe, mas não existe motivo nenhum para acreditar que no meio da bagunça que eu sou, existe um ponto certo que é você porque se não fosse, eu não estaria em maio e ainda escrevendo sobre isso, porque se não fosse, o texto não estaria desse tamanho, porque eu não consigo escrever textos grandes sem motivos e muito menos sem chorar, porque se não fosse, eu não colocaria você no meio de qualquer assunto com quem quer que fosse, porque se não fosse, eu já teria parado de sonhar com você e com seus irmãos e pais e sua sandália que arrebenta e sua cara que fica melhor com barba e suas gírias que eu roubei e sua namorada e você e você. 
Eu sei que eu peso toneladas e que ninguém pode andar me carregado por aí, muito menos você. Eu sei, sim, mas não me mande vibrações de que "isso vai passar" ou qualquer coisa parecida, não precisa, eu acho que não resolve e nem alivia. 
Desculpa por ter colocado uma maquiagem de frieza e indiferença, eu não sei o que estava acontecendo comigo naqueles tempos e sei bem menos agora. Mas eu queria também que você entendesse que faltou um centímetro para você me conhecer totalmente, mas tenho certeza que era isso o que ia te fazer ir embora, ou seja, de qualquer forma, você não estaria aqui hoje. 
O centímetro perdido era esse mundo de sentimentos agressivos que para dizer o quanto eu precisaria de você, usaria a voz da expulsão. É uma pena que você não soubesse interpretar. É uma pena que não me entreguem com um manual. 
E me perdoe por ainda não ter te tirado de mim.



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