Sobre o tempo que não para nem passa

Sua vida é toda centrada em cima de dores pessoais. Na tentativa de remediar as alheias, você receita seus próprios remédios, finge estar interessado em ajudar alguém mesmo sem saber que está fingindo. Tem casos que até são solucionados, mas por pura sorte. Sorte existe, também. A realidade das coisas nada tem a ver com a duração delas. Não é porque foram necessários oito meses para sentir algo bom que os oito meses foram ruins, nem muito menos porque passou um dia com uma pessoa e nunca mais a esqueceu que isso torna desprezível o "um" dia. Você é mimado. Por mais que acorde todos os dias já tendo uma vida nas próprias mãos, mesmo que já tenha batido na sua própria cara dizendo que é hora de crescer e mesmo que você já tenha, de fato, crescido. Você é a porcaria de um menininho mimado por si mesmo que acha que uma válvula ou outra aquieta sua agonia. Você só acha, mas saber que é bom, não sabe nunca. É por isso que os meses se arrastam a cada nanosegundo te fazendo pirar em não consertar um erro qualquer, ou um erro gigante, ou até mesmo tendo um macabro orgulho de preferir desfilar com uma boa cara de ator que está bem a escolher outra coisa que façam os outros te apontar como alguém que perdeu. Por quem nossas derrotas ou vitórias são ditadas, afinal? Como é que você pode saber o que te faz bem e cancelar de uma vez o que te faz mal ou qualquer coisa assim? Não consigo ver seus passos numa linha de gente que conseguiu ficar bem e anda com o perfeito equilíbrio de pessoas que estão dopadas de remédios da nossa querida e doentia geração. Acha que pessoas que estão bem a base de medicações realmente estão bem? Eu não acho que você esteja bem e nem acho que teus textos te ajudem, nem aquele caderno de capa tão bonita em que você enfia de vez em quando um pedaço da sua alma sem saber se isso vai se estabilizar alguma hora. Sem saber se sua alma doada não te fará falta algum dia. Qual será o destino do caderno, meu amor? Vai simplesmente jogar fora como jogou as ficções ou dessa vez, por, infelizmente, não se tratar de uma ficção vai ter coragem de entregar ao destinatário? Faz quanto tempo que você esqueceu de quanto tempo faz? Você consegue lembrar o dia em que optou por sentar nessa cadeira acoplada a esse terremoto e que as coisas só iam merecer voltar ao equilíbrio quando você chegasse ao epicentro ou a alguma base realmente segura? Você realmente tem uma opinião de que vai resolver tudo isso assim que a estação mudar? O que você está pensando ser? De onde está saindo essa força que não existe? Acha que furacões apenas acabam? Acha que pelo fato de sempre ter voltado do inferno vai voltar mais uma vez? Quem você acha que está te esperando além de mim? Realmente passa pela sua cabeça que eu ainda vou estar aqui? Por que você pensou que eu estava falando de você se eu nem existo mais?




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