Cinzas de rosas

Ela fala como se fosse uma obrigação de aproximação. Aproximação forçada. Ele escuta como se estivesse escutando. Não está. Nunca está. Eles riem no fim do assunto como se estivessem achando engraçado. Não estão. E os maxilares doem no fim da noite. Assim como as costas. Como a visão. Como várias partes do corpo que os levam a dormir mais uma noite na espera do dia seguinte que tem mais de mesmo a um seguinte. Rotina a dois. Quando acabou? Meses? Anos? Que dia? Qual foi a hora? Ninguém lembra. Esqueceram até que acabou, talvez até de que um dia começou. E nunca, parece que em hipótese nenhuma, passa por suas cabeças que ainda há chances de um recomeço, mesmo que com outros do seu lado na cama antes de dormir, mesmo que com chances da rotina despencar outra vez no caminho, mas e daí? É sempre tempo de recomeçar, mas o medo de se mover é sempre maior, e sei lá por quê. Não sei que comodismo é esse, não sei como pessoas se acostumam a lugares insatisfatórios, mas deve ser fácil demais quando temos mil e um lados para atirar a culpa. Muito fácil, porém, ridículo.