Cultura Reversa

     Adequar-se a uma sociedade violenta se tornou algo tão rotineiro que ao pararmos para analisar essa postura tomada por nós mesmos fica difícil encontrar um modo racional que, na prática, nos possibilite viver sem tais enquadramentos.  
    Não andar por ruas escuras e vazias, esconder da melhor forma objetos de valor e não andar com roupas “indutoras” são regras que seguimos e na maioria das vezes nem questionamos. Por que deveríamos temer perder aquilo que nossos trabalhos nos permitiram ter ou encaramos como um dever termos que optar por ruas mais “seguras”? Melhor: quem definiu o tipo de roupa que não nos colocará em risco?
    Assim como um relógio no pulso não é um pedido de assalto, uma roupa curta, colada ou transparente não é um chamado para algum ataque. O principal atraso mental da população é dado quando um bom número concorda que a culpa é da vítima e isso é justamente o que possibilita a continuidade dessa cultura reversa onde muitos se acham no direito de atacar já que contam com um bom número de apoio ao pensamento.
    A violência deveria ser um fator encarado como problema a ser resolvido e não como precursor de adequações. Teremos os mesmos números de opiniões lamentáveis que não responsabilizam o agressor enquanto continuarmos nos adequando às regras que deveriam ser exceções e não começarmos a procurar um meio de atingir as causas iniciais, como, em teoria, qualquer civilização deveria fazer.


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