Ajuste memorial

Na manhã em que você me deu um chocolate, eu não entendi o motivo e devo ter dito "obrigada" com cara de "que porra é essa?" para manter a educação (que tenho muita) e porque eu não sabia realmente o que fazer. Da primeira vez que sentei ao seu lado, foi em um estúdio musical, seu celular era rosa e no mesmo dia notaram o quão parecidos eram nossos rostos, mesmo que eles não fossem, como nós não achávamos. Hoje eu acho, às vezes.
Nossas duzentas manhãs variaram muito. A princípio... Não lembro de você nas nossas primeiras manhãs. Na metade delas, você tornou-se indispensável, não à minha vida, mas às manhãs, se é que me entende, se é que dá para entender. Era confortante acordar por saber que eu ia sentar ao seu lado.. Mentira, era só mais animador, nada de extraordinário. Seus dedos tortos (exageradamente tortos, meu Deus) roubaram muitos segundos de atenção de minha vida, a cobrinha que você fazia (você ainda faz?) com as mãos mais ainda. Engraçado que eu eu lembro exatamente do seu tom de voz ao dizer que eu precisava tatuar seu nome nos meus braços e que você ia fazer o mesmo. Engraçado que eu lembro exatamente de como você me abraçava naquele corredor e eu ficava agonizando não pelo abraço ser forte, mas por achar que (hoje não sei como eu achava isso) minha roupa ia cair. Lembro o quão lerdo você era para escrever e sua letra nem era tão bonita para fazer justiça ao enorme tempo gasto. Lembro de ouvir suas historinhas amorosas e sexuais e rir, e em outras piadas não mover um músculo facial, você, como todo mundo, tinha (ainda tem?) piadas ridículas de tão bestas. E, então, veio o chocolate. Comi, claro. E sem dividir contigo. 
E, então, o fim da amizade como todo mundo pode supor que aconteceu.
Hoje, acho muito legal da minha parte ter acabado a amizade dessa forma. Não fosse você, seria quem? Exagero, eu sei. Sou exagerada demais, eu sei. Não precisava ser você, eu sei. 
Hoje, quando você me chamou de "Florinha" (nunca vi alguém usando isso para algo ruim (ingenuidade minha, talvez)), notei que, meu querido amiguinho, nossa amizade nunca acabou, só nossas manhãs cessaram, como já estava determinado e o mais legal é que você me "chamou" no mesmo dia que acordei pensando em você por ver uma foto nossa... Talvez a gente tenha crescido (tá, eu nem tanto), mas nossas manhãs continuarão do mesmo tamanho em minha memória e eu sei que estou em falta contigo... E sempre falto ou enrolo para não te ver e ainda assim você fala comigo, a cada seis meses ou a cada um ano. Incrível como algumas pessoas são tão simples em viver em nossas vidas sem pressão e sem cobrança. Você é e sempre será uma das histórias mais puras que eu tenho para contar... mesmo que não pareça (e talvez exatamente por isso).






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