Insignificância

Quem de nós nunca encarou os olhos de alguém desejando que um outro se materializasse bem ali na nossa frente? Quantas vezes não nos sentimos incríveis por listar nossas boas ações? "Nunca traí", "nunca deixei de ser sincero", "jamais machuquei", "fiz tudo certo". Qual é o nosso problema, afinal? Estamos tentando convencer a quem sobre a nossa dignidade?
Quem precisa ser convencido de alguma coisa, aparentemente, somos nós mesmos, que adoramos repetir nossas coisas bem feitas para sabe-se lá o quê. Se a gente já sabe, se nós não esquecemos, por que essa necessidade interminável desta listagem? É bonito dizer que alguém nos fez mal? Não. É patético. Porque: já deixamos de ter dez anos e já conseguimos ter como arcar com as nossas próprias dores. As nossas dores emocionais são derivadas dos canais que abrimos para que elas possam entrar. Se abriu, então, segura o problema, para de querer jogar ele em cima de alguém. Nós erramos também, todo mundo faz um monte de besteira, inclusive com aquele a quem atribuímos a culpa de nossa insônia. E seria tudo mais leve se pudéssemos calar a boca um pouquinho e falarmos sobre qualquer coisa mais interessante. Sobre respirar, por exemplo. Desligar a TV dos problemas fictícios. Sei, também, que é meio frustrante a época em que as pessoas chegam (segundo os filmes) a cessar todo o diálogo sobre problemas e fingem que eles não existem, mas fingir é uma coisa totalmente diferente do que o que eu vim nos propor. 
Às vezes, eu acho que eu (assim como todo mundo) devia ir atrás de tudo que desejo, mas, por exemplo, você é uma pessoa, com suas vontades e eu não posso ir atrás de vidas próprias ininterruptamente, infelizmente, sem a menor felicidade neste âmbito, de verdade, eu só posso entender que você prefere não estar aqui. Mesmo que eu não entenda. Mesmo que seja ruim de aceitar. Eu só posso parar de listar o que fiz de certo e o que você fez de errado e ir anulando você. E caso eu não consiga, eu não sei... A vida dá um jeito em qualquer coisa, exceto no seu total oposto, óbvio.









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