Naufrágio de um Titanic pesado e frágil

Existem dores que nos mutilam e outras que nos constroem. Decidir por tornar algo desnecessário é uma virtude que poucos têm. Ouvir, por exemplo, que não somos inferiores é uma generalização que cabe a qualquer um, mas ouvir que eu não conseguiria ser mesmo que tentasse é uma reafirmação do meu próprio ser. 
Eu sei o quanto sou angiosperma. 
Nossos vícios são nossas definições. 
Os cortes deles são nossas elevações. 
O que merecemos é o que nos damos. 
Desistir de si mesmo é uma fraqueza, desistir de se machucar, porém, é uma força que nem todo mundo obtém. Eu não consigo ser menor que você, não para mim mesma e é sem desculpa. A elevação do meu ser é dada por você ao repetir diversas vezes o quão eu não consigo me abaixar para falar contigo, o quão eu não consigo ser mais humilde e propensa a olhar meus próprios erros. Uma pena porque se sentarmos em alguma mesa para tomar um café (outra pena porque nem isso você sabe fazer) veremos que eu fiz a lição de casa perfeitamente e não saí da linha de uma pessoa sensata. Eu amei você, eu tive  cinco dias de paciência com a sua estupidez para esperar por apenas um bom, eu fui todo o oposto do ruim que foram comigo, eu quis nunca fazer contigo o que fizeram comigo. E sabe o que mais? Eu consegui. Eu não brinquei contigo. E sabe outra? Ainda deixei que você brincasse comigo depois de inúmeras noites ruins que, supostamente, eu criei para você. Logicamente elas aconteceram por você não ter sido você mesmo enquanto estávamos juntos. 
Esse foi o único problema: você não ser você. 
Eu fui absolutamente eu mesma esperando que eu pudesse te ajudar, que a distância nos curasse e que você soubesse o quanto eu iria longe para não nos perdermos. Eu estava esperando por você até agora. Esperando que você aparecesse no meu futuro. Mas não vale a pena. Nenhuma espera por gente pequena vale. Eu me sinto mal por ter que anular a  necessidade de um dia futuro feliz contigo, mas me sinto incrivelmente bem por ter feito tudo que eu podia. E não tem nada a ver eu ser triste por coisas que eu invento. Eu não menti que eu te amava quando eu não te amava e não menti que não te amava quando era o que eu sentia. Eu não me importo mais. Ainda entro todos os dias em casa esperando que você brote de uma parede, mas, sinceramente, isso já não importa mais do que eu mesma. 
Lembra quando eu disse para você parar de me ver superior? Pois bem, não pare nunca porque dessa vez eu concordo com você: eu sou. 
Meu único erro foi achar que eu podia esperar uma criança cuidar de mim. 
Eu não seria inferior, mesmo que eu tentasse. 
E não me sinto ridícula por ter te esperado e nem por ter feito o que eu achava certo. Eu nunca fui, aliás. E você, infelizmente, nunca me conheceu, o que também é de lamentar porque existiram dias em que eu ia permitir, mas a gente vê que nem todo mundo merece a nossa doação e outros só merecem o cancelamento da necessidade. 
Você acha que me conhece, mas se assusta com qualquer ato que fuja da minha linha. E talvez eu seja isso,a  previsibilidade do imprevisto.
Para ser bem sincera, eu odeio o jeito maníaco com que você enrola seu cabelo e olha pra cima ou seus tiques nervosos que parecem que vão desencadear um surto. Eu odeio porque me dá vontade de cuidar de você. Detesto quando você ri de uma coisa e seu corpo mostra que você não está achando isso engraçado. E é estranho que você ache esquisito que eu desaprove uma porção de coisas idiotas. Percebe a nossa diferença? Eu não preciso expor o que eu não sinto, nem o contrário. Você finge que não tem transparência. Sabe-se lá para quê. Notavelmente você jamais teria pulso para controlar um surto meu. Imagine, pois, ter que cuidar de mim e ainda de você.
Nos últimos dias eu estava propensa a isso, porém. Eu cuidaria de você como se fosse uma extensão de mim. E o quão raro é alguém que faça isso por nós. 
Agora eu não espero nada, não desejo nada bom nem ruim nos seus próximos dias porque algumas coisas evaporam da forma mais simples e nunca mais voltam, não da mesma forma. E você tá indo para o ralo com essa puxada deste rodo. Não preciso de alguém que faz coisas e diz sentir outras. De loucura já basta a minha.
Eu não me importo mais.
Nem espero.
E nem escreverei.
Assim como também não vejo mais sentido em sentir.
E se um dia eu fizer falta e você decidir voltar: eu não quero mais estar esperando.
Porque você não ia merecer metade do que eu poderia ser.

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