General: izando

O ritual é quase sempre sagrado: coloco uma música que nunca ouvi antes, giro meus globos oculares em 180º e por minhas mãos a minha alma do momento escorre, às vezes inunda, às vezes quase não molha. Em outras vezes, vai sem música, vai no meio de choro e dos gritos silenciosos, mas essas são as vezes mais raras.
Já faz um tempo que notei que as inspirações sempre mudam mesmo que não exista uma regra de tempo. Por exemplo, antigamente eu escrevia para aliviar a agonia de me sentir só, depois foram agonias passageiras, mas que quando estavam acontecendo não tinham caras de que passariam. Toda loucura é demorada porque ela mesma ignora ser substituída. Já faz uns dez anos que estou neste pouco mais de um mês e meio.
Exatamente agora minha cabeça está quase muda porque eu já te disse quase tudo e quase não tenho mais nada para resolver na vida (dos antigos problemas, claro).
Se eu ainda sou capaz de prever as minhas próprias coisas, daqui a pouco vou conseguir estar totalmente vazia de novo e em silêncio. Já consigo "preferir não falar sobre isso". Já consigo ver que foi muito mais difícil aprender a viver sem outras vidas nas minhas, como alguém que passou treze anos ao meu lado e outro alguém por uns dez. E mesmo que eu saiba que a duração do tempo quase não diz nada, isso não me cegou para o reconhecimento do tamanho da força que eu já adquiri por chegar até aqui.
Eu lembro perfeitamente de escolher abrir mão de quatrocentos universos.
Talvez seja mesmo impossível saber para onde eu estou indo, mas o que importa é que eu estou indo e mesmo que eu vire fumaça amanhã (ou hoje), vou virar fumaça no caminho, com as pernas em movimento.
A gente cresce, aprendemos a tomar café, aprendemos a ter paciência, aprendemos a não ver motivos em odiar coisas apenas por odiar e aprendemos que não temos condições de dizer que crescemos porque não conseguimos nos ver de fora.
Continuo minúscula, mas sei exatamente quem eu sou e isso me faz saber que na maior parte do tempo eu não faço a menor ideia de quem eu sou, de quem você é e do que estamos fazendo aqui.
Sou o mesmo infinito poço de intensificar angústias e sou a mesma que passa 730 dias sem encontrar uma alma que arranque minha capacidade de dormir ou a vontade de amar.
Eu não sei se o que eu sinto é amor porque a primeira coisa que eu peço em silêncio todos os dias assim que abro os olhos é para que ninguém apareça, nem mesmo você porque eu detestaria qualquer outra pessoa no mundo e contigo eu detestaria que não desse certo. Como sei que não temos capacidade, prefiro mesmo que nem seja com você. Nem com ninguém. Nem com você. Nem. Com. Você. Veja: eu adoraria e me sentiria infinitamente bem caso você aparecesse, caso desse tudo certo, mas eu não quero. Não. Entende? Não. Nem eu.
Aí você pensa que isso é conversa de gente machucada, como o resto do mundo sempre diz "nunca mais quero alguém" com o mesmo sentido de "nunca mais eu bebo". Mas eu acho que seja diferente porque por mais difícil que seja de acreditar, alguma parte de mim se sente bem por eu estar me sentindo mal (finalmente) e que você esteja bem. 
E que a gente morra logo! Sei lá, não no sentido de sermos enterrados denotativamente, mas no sentido de eu demorar uns dez segundos até lembrar teu nome e dizer "Meu Deus, eu queria este ser um dia por qual motivo? Como assim o nome dele é esse? Será que é esse nome mesmo? Como é o rosto dele? Será que ele tem rosto? Tanto faz!" e dar de ombros respirando normalmente. Convenhamos, este dia chega para qualquer coisa até para aquelas coisas que duram dois anos e parece que vai te matar. Agora imagine nós, quer dizer, imagine você.
Pois bem, em resumo, eu não consigo saber de nada, exceto que eu escrevo tudo que sinto e penso que é pra ver se fico mais leve. E fico. Mesmo que depois eu não veja sentido nenhum em ficar triste por pessoas tão medrosas.
Também me sinto mal quando as pessoas perdem a vontade de aparecer por aqui (em minha vida), fico querendo achar onde eu errei se até a noite passada eu era tão interessante. O meu maior erro é achar que as pessoas são recíprocas às nossas ações. Maior besteira que eu faço. E vai continuar sendo sempre a maior. Eu vou continuar jogando limpo enquanto vocês enfiam a cara na lama antes de entrarem no jogo. Não preciso aprender este tipo de coisa, não, obrigada. Sei que não tenho a obrigação de ficar na vida de ninguém assim como ninguém tem de ficar na minha e sei que assim que vocês baterem a porta, as primeiras horas, os primeiros dias e até os meses iniciais serão de mil interrogações e mil gatos arranhando minha traqueia, mas o tempo passa, e também nos faz passar pelas pessoas nas ruas ou em qualquer bar ou esquina insignificante. Eu, porém, não vou precisar ter adiado qualquer medo ou covardia. A gente perdoa. E esquece.
A gente esquece, sim. 

























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