Prudêncio

Uma vez eu te joguei fora da minha vida e, embora eu já esteja cansada de repetir esta história para mim mesma quase todas as noites antes de dormir, eu jamais vou esquecer de como eu fui te buscar com todas as minhas células. Aparentemente, eu nunca vou esquecer disso. Você, pelo contrário, nunca deve ter lembrado. Quando você foi embora novamente, eu não podia ir te buscar por questões lógicas de que eu nunca tinha fechado a porta. Você voltou, mas como uma visita apenas. A porta continua aberta. Sua ausência também continua. Desta última vez, eu me neguei a sentir saudades, me proibi de lembrar que uma enorme parte de mim não estava por aqui, mas a gente não consegue viver eternamente incompleta. Quer dizer, a vida inteira é incompleta e o complemento total só pode ser dado com a morte, mas é que agora eu estou incompleta demais. Faz tempo que tem faltado você e nos últimos tempos tem faltado ainda mais. Quase nada de mim tem restado e, exatamente nessas piores horas, eu consigo ouvir gritos intraduzíveis do seu egoísmo e da pouca importância que eu causei por aí. Eu precisaria dos mil bares que nunca fomos, dos mil m&m's que nunca comemos, dos trinta mil abraços que nunca existiram, de todas as coisas que foram suspensas e adiadas por tempo indeterminado, eu precisaria de você fingindo que gostava de mim e me ligando por nenhum motivo, eu precisava que você destruísse mais um relacionamento meu só por saber que sempre foi mais importante. Eu preciso todos os dias de você e tenho que escrever isso de vez em quando porque você é, de longe, a pior válvula de escape que a vida poderia ter me dado. E exatamente por isso você sempre foi a melhor. E se você puder ouvir isso (telepaticamente) ou até mesmo ler, se ainda estiver vivo, vê se causa algum movimento de aparição porque eu sempre iria te perdoar e nunca te colocaria de castigo, mas eu não posso ir te buscar. Mais uma vez, eu não posso. E, mais uma vez, eu continuo te esperando todos os dias, durante todos os minutos. 


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