I drew a line for you

Existiram tempos difíceis em que foi preciso o sacrifício de partes existentes dentro de nós mesmas, obviamente, sangrou. Não existe alternativas de arrancar partes inerentes sem que doa e sem que, posteriormente, exista um vazio no lugar do que existia antes. 
Agora, que continuamos no meio do nada há quase um ano (ou cem), a realidade nos mostra mais uma vez que vamos ter que arrancar algumas coisas mais uma vez. Falo no plural porque estou aqui com todas nós e como vocês sabem, e eu também, apesar de no fim de tudo (que, no entanto, é o começo) sermos apenas uma, somos, para a maioria dos casos, um certo número que não ousarei citar, em melhor parte para não surtar. Pois bem, lembremos que a anulação do primeiro caso deu-se pelo próprio sistema imunológico, o segundo por falta de opções, mas o terceiro foi feito por nossas próprias mãos. Agora que estamos no quarto e já aceitamos o adeus de todos aqueles que não aceitaram lidar com esta agonia, nos resta limpar o resto da poeira desse lixo horroroso que está na nossa casa. 
Vamos recusar. 
Recusarmos-nos a pensar em quanto tempo faz e em quanto tempo há por vir. Bloqueemos isso da nossa mente se quisermos tentar acordar por mais um dia. Eu sei, não existe placa nenhuma com certeza alguma, mas isso é tudo que podemos fazer agora. Esqueçamos o tempo, pois o resto já foi. Já foi faz tempo. Eu sei que, vez ou outra, eu ou qualquer uma de vocês ousa ver pela janela que os outros continuam, mesmo sem saberem, e por tantas vezes o oco dos nossos corações encara os abismos dos nossos olhares e pedem por alguma coisa mais viva, mais real, mas não vacilemos e nem esqueçamos que estamos aqui do lado de dentro trancadas a sete chaves. Sete chaves que foram lançadas fora. Lembremos de fazer uma coisa de cada vez e respirarmos lentamente para não explodirmos em casos de limites. 
Uma de nós sabe que não sabe mais de nada, que não sabe em que trem entrou e ao cruzar com um olhar que antes não significava mais nada, viajou, mesmo sem querer, num universo que não é o nosso e, então, teve a oportunidade de ver o nosso mundo de outro ângulo, viu que o que mais nos enlouquece é o foguete do tempo e viu também uma falta de lógica absurda para os últimos assassinatos que fizemos. 
Pelo menos janeiro passou sem nos ferir e, pelo menos, terminamos o ano sem matar mais do que devíamos, porém lá de fora ela também viu que podia curar alguém, nos resta decidir: deveríamos? E eu digo: não. Em breve, sabemos, estaremos a observar mais um funeral, a menos que a vítima descubra um jeito totalmente novo nesse planeta chamado Terra e consiga matar uma de nós. Isso eu acho totalmente improvável, mas não impossível, como tudo e como nada. Existe também a opção dela apenas pular pela janela. Isso eu sei que nenhuma de nós faria. E essa é a única saída de emergência que não machucaria ninguém. Portanto, é isso: em breve os alarmes tocarão novamente, nos resta rezar para não precisarmos ouvir o tilintar de mais uma coroa no chão. 
Quanto a saudade, matem. 
Não estando perto do que faz falta, mas sufocando mesmo, pensando em nada mesmo. 
Não esqueçamos de esquecer o tempo e nem de que isso vai ter que valer a pena. 
E mesmo que não valha, mesmo que no fim dos cálculos tudo resulte em zero, nós tentamos. 
E continuamos tentando.


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