"[...] Esquecendo o mundo

e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças! Toda prece é ouvida, toda graça se alcança.”

Consigo lembrar como se eu estivesse agora naquela sala em que você entrou e minha mente veio me perguntar qual seria o nome dos nossos filhos e no segundo seguinte eu não sabia se estava com medo de mim mesma, feliz ou apenas sem entender a real emoção por pensar numa coisa dessas quando eu sequer sabia o seu nome. 
Soube o seu nome. 
E lembro também do instante que eu achei que eu não podia cuidar de alguém que não sabia pronunciar o nome do remédio que precisava tomar nem me deixava descobrir e me fazia surtar. 
Nos fez surtar. 
Dei tchau, mas nunca esqueci seu nome
Não lembro de algum dia ou de noite nenhuma ter pensado o quanto eu não queria ter te dado tchau e ter sido mais paciente ou qualquer outra coisa que pudesse nos esperar e nos proteger de nós mesmos por um período suficiente para nos fazer notar, no fim, o quanto valíamos a pena um para o outro.
Não esperei e agora você já foi.
E é notável por todos que agora eu tenho tanto medo de qualquer coisa que não consigo te pedir claramente alguma coisa assim tão fictícia.
Fictícia porque a maior parte de mim quer acreditar que esses contos são mais falsos que os próprios contos antigos.
É óbvio que eu desejo sua felicidade, mas, infelizmente, eu sou humana e o egoísmo ainda me come diariamente machucando minhas vísceras e me lembrando de ter jogado no lixo o que eu podia ter encontrado alguma forma de salvar e por isso eu sinto a sua falta, mas não consigo decidir entre te salvar (comigo indo embora) ou me curar de imediato e adiar outra quebra das minhas pernas (ficando).
E é tanta perturbação que assim que acabo de me culpar por nunca ter nos salvado, quero justificar essa culpa dizendo que já tínhamos morrido mesmo.
E agora eu preciso de um remédio.
E, como você, um dia, hoje quem não consegue dizer o nome sou eu.





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