Pelas minhas trilhas você perde a direção

Num sorteio aleatório e sem fontes seguras, a parte afiada da faca sempre vai ficar na mão de alguém. Já faz um tempo que eu nunca mais vi sangue na minha mão. Talvez por, de todo o corpo, essa mão ser ainda a única coisa intacta. Não dá para explicar como é acordar no meio de uma tarde qualquer e sentir o que não cabe dentro de si, tentar se segurar em pé quando sua cabeça quer se jogar no chão e seu corpo, coitado, não tem força nenhuma, mas minha mão, a que segura a parte da faca que não corta, me sustenta. Infelizmente. Não de uma forma que eu escolhi, não planejei que meu mundo pudesse acabar e os de vocês também, mas,de qualquer forma, eu continuaria em pé por ser resistente aos tipos de explosões que vocês sofrem. Não consigo me sentir mal porque as minhas (bombas) também não ferem vocês. E, num ato de egoísmo, isso é o que nos anula há tanto tempo. Incrivelmente, hoje eu senti novamente a vontade de preferir que minha mão sangrasse, mesmo lembrando exatamente o que aconteceu quando ousei pensar que preferia isso. Não sangrei só pela mão. E apesar disso me tornar ainda mais egoísta e da forma que mais odeio, que é ser humana, eu me rendo, eu não prefiro, não. Eu não quero segurar faca nenhuma, não. Já me ouvi dizer que, sim, está na hora de crescer, então, sem vela obrigatória nenhuma, estarei na sala para qualquer tipo de chá, mas com as malas do lado. De novo, como sempre "porque sempre parto antes que comece a gostar", por mim, sim, mas, mesmo que seja difícil de acreditar, não sinto prazer nenhum em olhar nos olhos de alguém que está machucando a mão a poucos centímetros da minha, então, por nós, também. Sinto incômodo, sim, e sinto vontade de salvar, também, mas não de forma suficiente que me mova a fazer alguma coisa. Eu não sei, acho que também não gosto mais de mim. Uma pena porque nem isso mais me incomoda.




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