Púrpura simples

Não existe motivo para nos forçarmos a sentir alguma coisa. Caso aconteça algo ruim, o normal será não ficarmos bem, sem enfeites, sem delongas. Às vezes, me pego pensando que eu deveria ficar mal, que eu deveria chorar uma tarde inteira por todos os problemas da vida só para que meus sistemas entrassem em equilíbrio e eu continuasse os outros dias... Como secar uma piscina para limpá-la e deixá-la pronta para encher novamente... e ficar suja mais uma vez. O que notei é que não é preciso de nada disso. A tristeza vem sozinha, sem pedir licença, assim, não preciso ir buscá-la nem me incomodar se não passo horas chorando depois de notar o quanto as coisas mudam, o tanto de gente que nos obrigam a ver que não há necessidade de permanecer em nossos dias. E nos fazem acompanhá-los até a porta... E chutá-los. Isso deveria ser horrível, mas se não é, basta-me aceitar achar normal e encarar sem velas. Outra coisa são os reflexos do meu corpo. Oitenta por cento de mim é raiva e quando vira cem, as lágrimas caem. Mas é rápido, no dia seguinte, meu corpo avisa na forma de outras cores. Não sei se inventei isso, mas é melhor assim pois eu detestaria descobrir que estou com câncer. Eu não tenho motivos de ser feliz nem de achar que a minha vida tem algum significado, no entanto, eu sou, no entanto, tenho um propósito. Ainda. O mesmo. Com meus mesmos velhos eus.




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