Minhas raízes estão no ar.

Quando minhas mãos terminaram de escorregar por meu rosto e permitiram que meus olhos encontrassem o reflexo no espelho, notei que tinha algo muito errado e não era de um minuto atrás. Nem de uma hora.
Eram anos.
Onde eu teria estado em várias horas durante anos?

[...]

Número 1:
Sentou na beira de um abismo pela primeira vez quando viu o céu explodir um pouco mais a frente. Distante o suficiente para não machucá-la, perto o bastante para fazer a terra embaixo de suas pernas tremer. Não se assustou. Tinha explodido em algumas partes, mas ela, a original, estaria ali sempre sentada, de algum jeito. Apenas respirando fundo, apenas buscando forças de não pular.

Número 2:
A situação de apoio. A bengala. A voz que também é mão. A mãe que também é pai. A que nasceu junto, mas só ganhou voz no dia em que o céu explodiu.

Número 3:
Era para a segunda como a segunda era para a primeira, no entanto, servia para as duas. Situação final. Saída de emergência. De grande utilidade, mas, como só servia em último caso, era de aparência menos importante. 

Número 4:
Buscou flores. Uma por vez por saber que a primeira, que na realidade era a única, odiava buquês. Sabia de tudo e era a perfeição e imperfeição exata. A matemática completa para que nada faltasse, exceto alcançar o próprio pescoço.



"Preciso acreditar que, ao fechar os olhos, o mundo continua aqui. Acredito que o mundo continua aqui? Continua a existir? Sim. Todos precisam de espelhos pra se lembrarem de quem são. Não sou diferente. ... Onde eu estava?" - Memento, 2000

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