time's over: final aparente


Eu estou pronta para morrer e isso significa, aos meus olhos, que estou pronta para viver. Só quem consegue se desprender de todas as prisões da vida pode ter o direito a viver de verdade, pelo menos aos meus olhos. E, aos seus olhos, eu estou sendo prepotente em me colocar numa posição superior, logo, isso me torna inferior, mas o que eu vou fazer? Dizer que eu sou inferior só para que, aos seus olhos, a situação contraste seja que eu seja superior, então? Digo, essa psicologia reversa não te cansa? Nunca? Você nunca vai cansar de tentar ver o reverso onde existe ostentação? Nunca passou por sua cabeça que algumas pessoas realmente estão seguras do que são e podem, simplesmente, afirmar que o são? Que são poderosas, elevadas e firmes? Algumas pessoas se situam, sim. Detesto lhe informar, mas existem pessoas que estão contentes com o que são, que se acharam, que reconhecem seu potencial e não precisam de falsa modéstia.
Portanto, voltando ao início, eu acho que estou pronta para viver, para apanhar da vida mesmo, para morrer, mesmo. Exatamente pelo fato de eu não saber mais quem eu sou. De tanto que menti para mim, joguei a certeza em alguma esquina e não lembro em qual. Agora não existirá, provavelmente nunca mais, certeza maior que a falta de certeza. Na falta de alguma coisa é que se percebe a tal coisa. Eu não sei quem eu sou e isso é o que mais me faz saber. É meio perturbador, mas quem menos se conhece é quem mais sabe sobre si mesmo. Quem menos enxerga seus limites, quem mais tem a consciência de que existem lugares improváveis dentro de si mesmo é quem mais se conheceu. Quem lida com várias pessoas dentro de si mesmo é quem sabe diferenciar o seu eu verdadeiro.
Acorde um dia e estranhe todo o seu universo, começando do seu quarto, desconheça cada objeto, tente olhar com outros olhos, tente ser um estranho no seu mundo, veja o que está errado, tenha a certeza de que encontrará muitos erros, seu peito vai gritar de tanta dor por sua mente não entender onde você esteve em todos esses anos, mas se permita ficar insano, se permita fugir desses padrões que você mesmo estabeleceu. Algumas pessoas nunca mais encontrarão o caminho de volta, no entanto, isso não é de todo ruim. Esse mundo está uma bagunça, só quem abre os olhos internos e estranha, primeiramente, a si mesmo se incomodará realmente. Em primeiro lugar, a coisa mais errada que tem no mundo é você. Então, permita-se ir embora de si mesmo para ter a possibilidade de auto-leitura.
Como eu expliquei em algumas linhas atrás, só conhecemos alguma coisa quando lidamos com sua ausência, infelizmente. Logo, da forma mais feliz. O que também é estranho.

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