O que e quando aconteceu?

É confortável receber notificações todos os dias de que as pessoas lembram de nós, de que nossos amigos estão sempre presentes, de que temos uma vida socialmente estável. Deprimente é quando você se sente excluído de algum círculo de sua vida, é assustador. É bastante estranho ter que lidar com a sensação de que não temos importância, de que as pessoas conseguem viver sem nós. Imagine um dia abrir todas as suas redes sociais e não ter nada para você, imagine que isso se repita durante um mês. Desconfortável é apelido, mas você ia começar a culpar os sites, jogar o problema para qualquer lado, menos em cima de si. Ridícula essa sociedade atual que é baseada em intenções de quem curte a foto de quem. Loucura! Ninguém tem reparado que todo mundo está ficando louco? Por que é tão retrógrado passar mais tempo com a família? Se queremos tanto esse convívio humano, se precisamos tanto viver em conjunto, por que buscamos os meios impostos pelas modernizações do século ao invés de sentar na sala e conversar durante algumas horas ou apenas ficar em silêncio mesmo? Ninguém está realmente percebendo que é uma loucura o que todo mundo está vivendo? Qual é a necessidade hoje em dia? "Pra que tanto telefonema se o homem inventou o avião?" Entendo seu drama, Rogério Flausino, mas estamos você e eu sem resposta. Por que todo mundo sabe o grande paradoxo das telecomunicações que é afastar quem está perto e aproximar quem está longe, mas não faz nada?  Entendem a frase, repetem a frase e postam no mural da rede social para os amigos. Inútil.Vocês mesmos se corrompem por fraqueza ou o que é? O que vocês querem mostrar? Que querem morrer sentados cercados de aparelhos? Que loucura! Não me isento disso, não sou a rainha do desapego, não mudei o curso da minha história quando abri mão de uma rede social há uma semana, daqui a pouco eu estou lá de volta, o que só confirma que a insanidade geral é realmente preocupante. Pode poupar seu discurso em me chamar de "otária" por estar me achando a rainha das cocadas coloridas por não ter facebook, pode acalmar os ânimos, tá? Eu sou tão do gueto quanto você. Ainda. Ninguém está disposto a largar tudo e ir pro Alasca, mas todo mundo acha genial a história do Alex Supertramp. Esqueçamos os meios sociais. Pensemos agora em nós. Ninguém precisa ir procurar o Alasca para uma reconstituição espiritual. Uma viagem dentro de si é o suficiente para saber o que somos, o que queremos e o que importa. Mas é por isso que temos tanto medo de ficar sozinhos: temos medo do que somos de verdade.


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