Nenhuma agonia.

Qualquer célula minha, ao ser entrevistada, dirá que eu pedi por isso, assim como qualquer outra pessoa que me leu o tempo inteiro (não acho que exista tal pessoa, mas... né?). Bem, quando você está numa estrada no meio do deserto (desertos devem ter estradas como nos filmes porque eu mesma nunca fui em um) você reza para que um carro apareça e, de preferência, lhe dê uma carona, só que, como você sabe que querer uma carona é querer demais, então, você se contenta em rezar para ser atropelada.
Normal.
O que não é normal é ser atropelada na avenida mais movimentada da maior metrópole do mundo (Nova York? Não sei.) porque você está atenta ao trânsito e deve estar procurando qualquer outra coisa, menos um carro pra passar por cima de você, certo?
Certíssimo.
Então, existe um abismo entre ser atropelada em um deserto e ser atropelada em NY. Eu não quis ser atropelada, no entanto, atropelamentos, na maioria dos casos, não acontecem pelo querer da vítima.
Fui atropelada.
Fui atropelada no momento mais errado dos meus cálculos.
Se você ainda não entendeu, eu estou falando de paixão, sim.
"Um dia um caminhão atropelou a paixão."
Querida Paula Toller, eu nunca entendi esse seu verso... Nem mesmo agora que estou jogada em plena Times Square. O caminhão não deveria ser a paixão? O atropelado não deveria ser eu? 
Desligo o celular, religo o celular e você me manda reticências... Leio meus livros, canso meu cérebro e você me manda reticências, os dias passam, minha loucura acalma e você só me manda reticências.
Mas as coisas voam.
Como as coisas voam e eu temo que não passem muito tempo, talvez eu me levante rapidinho desse asfalto e diga com a voz da Natalie Portman em Closer: "Hello, Stranger" para o próximo estranho carro que passar... Ou talvez eu fique aqui deitada por treze horas até obrigar minhas pernas a se movimentarem como Uma Thurman em Kill Bill vol 1.
De qualquer forma, nada dura mais tempo do que o que podemos aguentar.
Nenhuma agonia.
Nenhuma abstinência.
Muito menos você.
Pelo menos, eu acho que não.


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