Nitroglicerina

O coração derramando café. Gritando, implorando, rezando para parar. 
Protestando: não vai aguentar. 
Eu devo ter intolerância a cafeína. Alguns tem à lactose, eu tenho a essa porcaria. 
E insisto em tomar. 
Tomo mais. Tomo mesmo. 
É o corpo tremendo, o ácido lático corroendo tudo que pode, junto com o resto grita, esperneia. O cérebro saiu da galáxia, cansou de querer ajudar o corpo ao qual pertence, se sentiu inútil por também pedir. 
É orgulhoso, parou. 
Viajou. Agora ignora a dor. Enquanto o corpo chora, ele pensa no alvo. Obrigado, claro, mas finge que não é. 
O cérebro finge que quer. 
Não sei se faço parte dessa história, não sei se estou no meu cérebro ou no meu corpo. Às vezes acho mesmo que não estou em nenhum porque assisto essa luta um pouco de longe. Cruzo os braços e vejo meu corpo morrer. 
Para ressuscitar. 
Entendeu agora? "Quem acordou de um suicídio sabe bem como é que é ter paciência, então, eu vou tentar mais uma vez." 
Quando a dor passar eu vou estar mais forte de novo. 
Óbvio. 
Mas é preciso choro e vela. 
De novo. 
Que os músculos gritem de dor para depois poderem bater com força o suficiente e em silêncio. 
Não vou jogar na tua cara, mas as notícias voam entre os estados e entre os países, querido. Voam. Esbarrarão na tua frente. Sozinhas. 
As lágrimas não descem mais porque acho que viajaram com a mente. Antes eu vomitava quando o álcool fazia mal ou quando a comida estava estragada. Eu vomitava também para tirar a tristeza de dentro. E dava certo. Hoje, eu até tenho vontade de vomitar, mas deve ser psicológico mesmo porque não sai nada. Nada.
Quando o sol acorda e eu ainda nem dormi, meu organismo tenta virar do avesso. Tudo em mim dói, mas ao mesmo tempo não é em mim. 
Se é raiva? 
É. 
E é esse meu combustível. E, não, não me importo de pegar fogo. Que a reação seja iniciada. Que explodamos. Que você me veja vencer. Sem você. E que você sinta culpa. 
Porque a culpa é sua, 
mas a vitória 
é minha.

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