Heterofenomenologia

O que eu temo é achar que a sua raridade seja rara. Cada pessoa é rara ao seu modo, não? Eu me prometi que não ia te converter em palavras, prometi que ia respirar devagar só para não correr o risco de explodir a nossa plataforma que talvez seja de vidro, eu me prometi que não ia racionalizar sobre isso, mas aqui estou. Não sei se tenho mais medo de você ou de mim, é verdade, mas o que me assusta mais ainda é a chance de eu esquecer do que ando sentindo esses dias. Cada minuto de conversa trocada é um segundo de acréscimo de bondade em mim. Dá vontade de ser boa pro mundo inteiro só por sua causa. É de esquecer essa sensação que eu tenho medo porque eu já estive bem com outras pessoas também, não podemos negar, mas e hoje? O que é que eu lembro? Não lembro de nenhum sentido, de significado nenhum. Não lembro do porquê eu estava feliz, do que elas tinham de tão interessante. Eu não quero transformar você em um lapso de memória, mas eu também não vou ficar o tempo inteiro cruzando os dedos só para que você fique mais. As pessoas cansam das outras quando se conhecem demais, pelo menos é o que dizem e em parte eu concordo. Seguindo isso, a gente devia ir mais devagar e ficar mais distante, então, mas para isso acontecer deveríamos estacar no zero, pois devagar a gente tem ido e distante estamos demais. Do outro lado desse ponto de vista, antes de dormir eu aprendi que talvez seja exatamente o contrário, que apenas quando as pessoas se conhecem realmente é que as coisas fazem sentido, que apenas quando eu me acostumar com o seu jeito de pentear (ou de não pentear) o cabelo, quando eu souber a blusa que você vai usar, quando eu souber o que você vai falar em determinada situação, quando eu souber quando você vai rir, quando eu souber de todos os mínimos detalhes, não cansar, não achar tudo ridículo, não tiver vontade de ir embora e fazer deles motivos de sorrir e de me sentir bem é que eu realmente vou ter aprendido o que significa gostar de alguém. Pela primeira vez eu pensei dessa forma e isso me deixou feliz por pensar que talvez eu realmente nunca tenha gostado de alguém. É melhor pensar assim a pensar que eu abusei de uma porção de gente. Faz até mais sentido. Eu não sei se essas coisas acontecem, eu não sei se tenho aptidão para isso e sei muito menos se isso vai ser contigo. Talvez eu nem lembre mais do que sinto hoje daqui a uma semana, como sempre tem sido, entretanto, já que estamos aqui na vida, não só por isso, mas por isso também, que calculemos menos e vivamos mais os segundos... Como sempre tem sido desde que somos jovens.




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