Intrínseco

Aqueles olhos possuíam um universo distinto onde ninguém era capaz de entrar. A única coisa que refletia ultimamente era a luz da tela a que ele perdia tantas horas buscando ser alguém na vida. Eu queria salvá-lo, mas não fui capaz de salvar nem a mim mesma.
Como tudo que me restou foram memórias, com ele eu tive dias de sorrisos e de madrugadas bem cuidadas como os filhos que têm pais que realmente queriam ser pais. Ele perdeu várias aulas por mim por dormir muito tarde, talvez por isso hoje em dia deva perder tantas horas se dedicando, se bem que perde mais chorando.
Duvido. Por mim, nada.
Eu nem sei onde eu estou hoje, só fico aqui no canto do quarto dele, no escuro, tentando fazer com que ele lembre de mim, com que ele não esqueça jamais do quanto algo surreal e irreal foi mais real do que o que tudo que ele viveu julgado (pelos outros) real, mas nunca, em hipótese alguma, tento tirar sua concentração e fazê-lo colocar os olhos em mim.
Não minto que queria abraçá-lo.
Eu sou ele que vive a milhas de distância, talvez, hoje em dia, em outra dimensão.
Ao mesmo tempo o ele em frente a tela é ela, ela, realmente sou eu. Eu ainda sou eu mesma, em algum lugar.
Esse desespero, alguma hora, vai nos deixar.

Comentários