Videoclipe e Semiótica

Não dá para ter a certeza de qual foi o primeiro videoclipe da história, mas é possível dizer que os que iniciaram a mistura de cinema e música foram os Beatles quando “cansaram” de ouvir a gritaria de seus fãs e resolveram substituir seus shows ao vivo na TV por gravações.
O termo videoclipe só começou a ser usado na década de 80. Clipe deriva de clipping, recorte, pinça ou grampo que, provavelmente, refere-se à forma narrativa em vídeo feita por recortes de imagens. Em 1981, com o surgimento da Music TeleVision (MTV), canal dedicado a apresentação apenas de videoclipes, houve uma explosão de “música com imagem”. Dois anos mais tarde, foi criado o American Video Awards, festival que premiava os clipes A década ficou conhecida como a “década do videoclipe” pelo fato da emissora impulsionar tanto a produção dos curtas.
Com o passar do tempo, as ideias para as ilustrações dos vídeos foram sendo aprimoradas e passaram a ter uma estética própria com imagens em um ritmo frenético e que tentavam contar alguma história em poucos minutos, o que é utilizado ainda até os dias atuais, mas, existem também os que selecionam cenas e objetos aleatoriamente que “nada” tem a ver com a cena.
Assistir a uma história contada por imagens numa sequência selecionada para a obtenção de um sentido pré-determinado é diferente de um conjunto de montagens aleatórias, inicialmente, sem propósito. Primeiro que é muito mais fácil interpretar algo montado com um objetivo de interpretação que ter que juntar cenas soltas para buscar um sentido. Por exemplo, em um sonho é muito mais fácil a análise das partes que o sentido da relação entre todos os “diferentes” sonhos de uma noite inteira.
Outra questão evidenciada nos videoclipes é a influência do consumismo. É comum o uso de símbolos que remetem à moda de algum artista, como nos clipes da cantora Madonna que exercem tanto à influência em suas roupas e acessórios como no seu próprio estilo, que também serve como uma propaganda inspiratória.
As imagens podem perder a obrigação de contar uma história linear e serem colocadas numa justaposição com uma única intenção: a venda do produto (da música), podendo-se descartar quase que totalmente a intenção de bricolagem com as montagens, ou seja, as imagens aleatórias que ali foram colocadas, na verdade, possuem um sentido.
Há, ainda, a interpretação sonora que é dada por imagens associadas a sons. Por exemplo, quando os produtores do vídeo decidem construir o clipe a partir de interpretações imagéticas que derivam dos signos representados pelas associações sonoras, a sequência obtida terá uma interpretação , possivelmente, diferente da que será feita pelos que verão o curta posteriormente.
Não necessitam obrigatoriamente se relacionar com a letra, muitas vezes, relacionam-se com um sentido inicial e, para quem assiste, assume outro significado, isso porque a variação dos ângulos dos observadores sempre é mutável.
A tradução nem sempre é fiel á música pela questão dos referentes. As associações que temos ao ouvir alguma coisa, muitas vezes diferem. A semiose música-visual, portanto, irá diferir de pessoa para pessoa.
Cenário e figurino tem o poder de ditar moda, servir de estética, ou fazer algum tipo de referência. No clipe “Give me all your luvin” de Madonna, estão presentes as três possibilidades. Sua moda que está presente em todos os seus clipes, a estética que é muito bem trabalhada, principalmente na questão das cores, e as referências quando, por exemplo, as máscaras, que tiram a personalidade das dançarinas remetem a falta de originalidade das cantoras atuais ou à ligação feita à banda Pink Floyd.
Alguns clipes assumem a narração inversa: a letra diz algo e a construção narrativa imagética mostra o contrário. Isso exemplifica a variação de interpretações dos videoclipes. Muitas vezes, é necessário ler eles ironicamente ou como crítica indireta a alguma coisa externa.
O conjunto finalizado pode servir como a propaganda de algo, uma imagem de consumismo, um apelo em forma de experiência de apreciação estética fonográfica. O campo de construção da junção imagem-música possibilita a experimentação de linguagem, principalmente, por existir a possibilidade de múltiplos sentidos de construção. Há a forma feita do que é um vídeoclipe, mas não existe uma sequência predeterminada que indique como se deva fazer, portanto, caso alguma produção decida que fará o máximo possível para que a finalização seja realizada com a falta de sentido total, ela estará livre para, entretanto, é necessário lembrar que, como as semioses diferem de mente para mente, existe a chance de que alguém que veja o videoclipe encontre sentido do início ao fim.
A possibilidade de multiface no campo dos videoclipes permite notar que o espaço que serve para criar, referenciar, chocar e vender serve também para a construção, reconstrução e desconstrução de sentidos que se aplicam direta e indiretamente aos que criam e aos que assistem partindo do ponto de que todas as experiências anteriores de uma pessoa irá ditar a significação atribuída ao momento em que ela vai assistir ao curta, ou seja, caso ela veja um clipe hoje e depois o reveja alguns anos mais a frente, a interpretação poderá ser outra.




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