Na pequena
alteração de um ângulo, visões podem ser modificadas. A relatividade da beleza
pode ser trocada, deixando belo o que era feio, dando importância a fatos que
antes eram meros detalhes, por exemplo.
Enquadramentos,
sequências de planos, zoom, cortes, movimentos... Sem diálogos, sem, sequer, um
roteiro, Dziga Vertov, em Um Homem Com Uma Câmera, permite que cada espectador
tenha uma interpretação diferente do que é mostrado em uma sequência de cenas
urbanas captadas por sua câmera numa metalinguagem do próprio cinema.
Com a menor
interferência possível, ele tenta mostrar a realidade da sociedade da forma
mais pura, sem a aplicação da ficção, sem a soma do conjunto que dá aos filmes
o que os permite serem chamados de “filmes”, tenta fazer da câmera, o próprio
olho humano. Porém, não devemos esquecer que essa própria forma de mostrar a
realidade, ou tentativa, já é um corte de uma percepção do próprio diretor,
mesmo que a sequência de cenas nos apareça de forma “crua”, documentando cenas
reais do dia-a-dia, ainda assim é um corte.
Há, ainda, certa
ruptura com a literatura na busca de apresentar o puro ser do cinema, o que capta
o que é passível de ser filmado, querendo mostrar que qualquer realidade pode
ser filmada, que o cinema pode deixar de ser fictício e ser também uma “janela”
para uma rua, porém, é possível notar que as pessoas quando se dão conta de que
estão sendo filmadas, mudam de postura, deixando de serem elas mesmas e
passando a representar, a atuar.
A
realidade, então, de certa forma, é uma janela diferente para cada indivíduo,
onde cada um parte de suas premissas e de seus ângulos para poderem definir o
que é a sua realidade, para terem suas interpretações individuais, mesmo que o
façam de forma involuntária.
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