Manifestação violenta, repentina e breve de um sentimento


Há quanto tempo que eu não brigo comigo? Toda essa conversa de bloqueio, na verdade, é só adiamento, retardamento. Todo esse gigantesco amor próprio que eu digo sentir, parece agora só invenção. O problema não é a indecisão alheia, não é uma decisão também alheia. Não são as pessoas, não é a situação que eu me encontro. Não é somente o fracasso. Não são casos isolados... 
Eu passei tanto tempo impondo o otimismo para com minha própria vida, com o meu própio ser, que eu passei a justificar todas as minhas falhas e não mais me corrigir, assim, é claro que não repeti erros só para bancar a estupidez, na verdade, na prática, eu não repeti nenhum. Mas eu nunca mais briguei comigo, nunca mais ganhei uma auto-surra. 
Tudo que eu adiei, tudo que eu passei por cima, foi colocado involuntariamente numa bolsa que eu ando carregando e isso é como se servisse para qualquer hora. Como se eu sempre fosse ter mil motivos para ficar triste, mas que eu prefira não ficar. O problema disso, é que uma hora essa bolsa vai pesar demais e eu não vou aguentar.
 Agora, foi agora. Eu não consigo aguentar todo esse peso, eu juro com toda sinceridade que exista dentro de mim: eu não sou capaz de suportar esse peso todo. 
Nesse momento, eu repito isso numa voz quase audível. 
O sensato seria conversar com alguém, sair correndo no meio da rua, gritar, expor, jogar fora, mas não dá. Ninguém seria capaz de entender o que eu mesma quase não entendo. Não sei em que idioma eu poderia traduzir isso para alguém ou algo (tipo uma parede, é, conversar com uma parede mesmo). 
Tipo esse texto. 
Todos os outros sempre me ajudaram, tiraram todo o peso das minhas mãos, mas, automaticamente, eles foram para a metáfora idiota que chamo de bolsa. 
É óbvio que não é a primeira vez que fico triste, e é quase certo que não será a última, mas assim, sem saber o que fazer, deve ser a número um. 
Outro problema, é que você nunca mais vai ver a transparência do que eu sou. Não como quando eu ainda estava no colégio que era tão fácil chorar em qualquer canto, em qualquer abraço. 
Esse mundo realmente me cansa, e isso é mais um motivo para a minha visão embaçada. 
E sobre o meu não aguentar, eu não posso fazer nada porque quem não aguenta, não segura o peso, não é? Então a metáfora ridícula fica jogada aos meus pés me impedindo de andar. 
Sabe, embora pareça, o problema não foi sua decisão, não é minha incapacidade estúpida de fazer um inter-urbano e te dizer o quanto eu preciso de você ainda, o problema não é você não reconhecer o seu papel que por tantos anos você deixou - não sei se voluntariamente ou não - em branco. 
O problema nunca foi nosso silêncio, nem que eu queira ficar transparente eternamente só por você ter me jogado da forma mais fodida que pudesse contra o muro da realidade. 
O problema sou eu.

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