Bloqueios Mentais


O bloqueio de memórias nada mais é que uma série de exercícios. Como qualquer outro, no começo é
difícil. Não pensar no que não se quer, é aquela velha história de que se alguém pedir para você não pensar em um elefante será justamente em um que o seu pensamento vai parar.
Pois bem, analisando todos os bloqueios que já tive só consigo me recordar de três. "Que falta de coerência!" Foi o que você pensou agora ao ler que eu lembrei do que bloqueei. De fato, é uma contradição, mas quando falo que recordo deles, falo que sei do que se tratam. De uma lembrança de quando eu tinha três anos - três? quatro? -, de alguém que morreu e de um relacionamento conturbado. Típicos!
O primeiro não foi voluntário, não ousei, simplesmente, começar a tentar esquecer o que aconteceu. Foi uma defesa automática -graças a Deus. Não consigo lembrar de eu ter pensado durante a infância o quanto aquilo foi ruim, o quanto aquilo deveria ter me atingido. Apenas fui criança. Quando voltei a lembrar -veja bem: não é que eu tenha esquecido a infância inteira, a questão é que eu não pensava naquilo nunca-, notei que aquela era a lembrança mais antiga da minha vida, mas que eu não fazia ideia do porquê daquilo não me atingir emocionalmente até então.
O segundo foi intermediário se assim eu posso dizer. O choque da perda foi tão intenso que cada célula do meu corpo podia sentir tristeza e ao mesmo tempo não sentir, como se a  quantidade de dor fosse máxima e esse máximo anulasse a própria dor. Foi assim. Hoje, quando me lembro, meus pensamentos me desviam pra qualquer outra coisa, tipo um elefante. E quando me obrigo a pensar, quando me obrigo a sentir, não sinto.
O terceiro, porém, foi uma aplicação do que eu já tinha aprendido com os outros dois. Eu sabia que eu podia bloquear aquele mal estar de um "fora", mas eu precisava querer. E eu não queria. Foram sete meses tentando esquecer, mas me negando a querer, eu sempre me entregava às lágrimas e às lamentações, parecia mais fácil. Parecia. Quando eu quis, porém, eu quis com as seis letras do querer. Então eu comecei a vigiar meus pensamentos e fazer "manualmente" -já que o automático dessa vez não me serviu- o desvio de pensamentos. Desviei por dias, por semanas... Depois disso eu já tinha uma vida para me preocupar -a minha, claro. O resultado é o que temos hoje: Não consigo lembrar do que me fazia querer continuar naquele drama, mas consigo distinguir perfeitamente o que me fez ir parar ali -para não repetir, claro. 
Não é um super poder. Você não vai deformar matérias - eu acho -, você não vai resetar todas as suas memórias. A simples capacidade de se controlar para viver situado nisso que chamam de vida, é apenas um exercício. Faz quem quer.