A sétima morte

Janeiro. No sétimo janeiro que minha vida está sendo atravessada por um ciclone é que eu posso perceber o quão macabro é esse mês para mim. Não importa como, sempre parece pior. E nesse, foi o resultado de horas e horas reduzidas a nada. A absolutamente nada. Assumo que é sempre pouco e que eu sempre poderei mais, porém, um resultado desses me atira no limbo dos limbos e não me deixa uma vértice furado para escape de luz, não me deixa saída nenhuma. Embora eu saiba que eu tenha que levantar mais uma vez e fazer tudo de novo, impossivelmente, com mais força e mais dedicação, no momento, a vontade é zero. Sem contar que daqui a pouco vou ter que olhar nos olhos da única pessoa a quem eu deveria prestar contas e falar (mesmo sem palavras audíveis (já que ele é novo demais para ouvir qualquer desculpa)): "sua irmã não conseguiu dessa vez". [...] Perdi a noção do tempo, do ano, do espaço e da fé. Perdi a noção de mim mesma, embora eu já tenha me desculpado. Outra coisa que não contei: acabei de achar um tesouro, e vou ter que colocá-lo num leilão por um preço ao alcance de mil e duzentas pessoas que o desejam, e rezar para que ele esteja no mesmo local quando eu voltar depois de um - dois, três, mil- mês. Janeiro é o meu massacre excruciante interno e externo - porque é impossível que um não derive do outro nesse mês. Nesse querido mês. Um dia desses falei sobre minha dor de joelho, aqui está ela me mostrando que nem de mim mesma eu sou capaz de cuidar... E quanto ao resto que não contei, aqui vai um pequeníssimo rodapé: acabo de ser informada que ando pintando de dificuldade tudo que me levaria ao topo se não tivesse essa terrível tinta que ando nas mãos direto. Pego todas as coisas fáceis e as faço igual a mim, só pra depois ter o que escrever. Involuntariamente, é claro. Logicamente eu preferiria nunca ter aprendido a converter dor de cabeça em textos e nem morrer em todos os janeiros.