Seu esconderijo não é à prova d'água. A vida entra em tudo





De tanto tentar implodir todas as sensações ruins, uma hora todos os destroços restantes começam a  desmoronar exteriormente, e quando você se dá conta, é resultado daquela pressão de você sobre você mesma que por tanto tempo pareceu tão controlada, quando por uma vida atrás foi mesmo, e um pouco mais antes de uma vida atrás, sequer existiu. Quando você se pergunta o que está acontecendo sem querer ouvir as respostas que estão na sua frente todos os dias: é a velha pressão disfarçada, é aquele novo abismo em que você decidiu se aventurar, as novas fichas que você decidiu apostar, são todas essas coisas idiotas que os outdoors vivem nos mandando fazer e ainda avisam que é melhor do que se arrepender por não ter feito, mas, e depois? O que é que sobra disso? Mil noites de dor de cabeça, algumas insônias em pessoas que dormem normalmente dez horas por dia, a total perda de confiança que oscila alguns dias inteiros em pessoas totalmente confiantes, uma vontade doentia de nunca mais ver ninguém que te conhece e vai te perguntar que curso sua vida está seguindo no momento mais difícil de direcionar qualquer curso. Só que é justo aí quando você não pode sumir, você não pode sequer desistir, porque a vida está ficando do jeito que passava nos filmes retratando qualquer gente grande: cada vez mais desumanos (onde para mim, infelizmente, estamos ficando é mais humanos mesmo), e, ingenuamente, achávamos que eram só filmes mesmo, e que talvez nunca fossemos crescer, ou, que isso nunca fosse nos abalar. E o que é que se pode fazer quando você se sente bombardeada por todos os pontos cardeais, colaterais, em cima, em baixo, fora, dentro, onde em nenhum canto é esconderijo resistente a explosões? Nada. Aí você desespera, pede um sedativo, pede pra ser jogada fora, mas depois volta ao normal, porque precisa, porque se obriga. Aí coloca um sorriso patético pra presentear conhecidos que, por pura obrigação, você tem que ver, uma cara simpática para encarar muita gente que nada tem a ver no que você faz pensa, mas força qualquer expressão só pra não ter que explicar como está sua vida, é por isso que a gente vai fingindo que não está vendo certas pessoas em certos lugares, é por isso que a gente acaba sumindo, é por isso que qualquer dia, num encontro maldito desses que a gente vive tendo, eu vou responder: "Estou bem, desde que morri, pois é, eu morri", só pra ver se facilito as coisas. É por isso que evito cada vez mais sair nesse sol quente, porque ele me queima, e as pessoas me aborrecem. Chego em casa com uma dor de cabeça do apocalipse e com meu maxilar doendo de ter ficado rindo da forma mais falsa terrestre. Aí, quando você, no meio do nada, encontra alguém que te deixa à vontade o suficiente para ser você mesma... Não preciso nem dizer o que acontece. Todo mundo é igual! Todos os dias: as piores coisas, de onde menos se espera.