Sorte e azar vão me disputar

Quando o prego que atravessava nossa carne, que tanto nos feria, passa a não nos causar mais dano nenhum, nem uma simples cócegas, notamos que algo está errado. Inferir um erro a um desaparecimento de uma dor é tão insensato: como achar errado a despedida de algo que nos fazia mal? Pois bem, como se isso não bastasse, ao entrar, finalmente, em um campo de ar puro, desejamos, inconscientemente (ou não, mas quando não, torna-se algo tão estúpido que se no caso relatado, a consciência estivesse dado as caras, eu não me daria ao trabalho de escrever sobre tamanho déficit mental), respirar de novo o ar cinza que nos arranha as vias respiratórias. Talvez o termo "insanidade" devesse ser substituído por "humanidade", justificaria muito mais o mundo. E, então, quando achamos tal ar para inalar, encontramos duas vias: uma de morrer e a outra de matar. Uma de contorcer todos os nossos músculos em qualquer canto de parede, e a outra de não mover linha nenhuma da expressão facial. Uma de empurrar um prego contra a própria pele e outra de não agir enquanto alguém faz isso por nós na nossa frente. Uma que nos leva a assistir um funeral, outra que nos leva a protagonizar um. Duas vias que nos leva a sentidos que, mesmo opostos, tem um mesmo destino: o de quando morrer deixa de ser suficiente.