Quando erramos um número ou um sinal numa equação o resto tende a que? A não dar certo. Se o argumento é que "direitos iguais só existem no papel", então para que a criação de outro papel envolvendo direitos? Veja a contradição de uma forma mais clara: como é possível criar uma lei que beneficie (veja bem que sequer estou usando o verbo "privilegiar") a população (que na verdade não é a população, e mesmo que levantem cartazes na rua dizendo que "a maioria da população pobre é quem vai ser privilegiada", a população é o todo. E o todo nunca, jamais, será uma parte.) Para não perder o raciocínio: como é possível criar uma lei que "beneficie" a "população" se estão protestando os "direitos iguais"? Não quero em hipótese alguma elevar o governo, pelo contrário, concordo, realmente, que direitos iguais só existem no papel, mas se as coisas agora só existem nos papeis, isso não nos dá o direito de nos conformar com a situação e inventarmos outro papel apenas. "Vivemos numa sociedade de desiguais". Ok, vivemos.  As cotas então mudarão isso? Mesmo? De que jeito? Dificultando o acesso para alguns? Agora você vai ter vontade de parar de ler ou vai rir ou vai achar que estou sendo agressiva e ignorante. Mas, espere, antes de dizer que quem vai se opor a elas são os "brancos ricos", pense nos pais que suaram desde o início da vida dos seus filhos para colocá-los em instituições de ensino particular para que, no ensino superior eles pudessem ingressar em instituições públicas. Não foi fácil para muitos, e continua não sendo. Se temos tão boas instituições públicas no país, por que nosso ensino básico continua sendo tão precário? Sua resposta: isso é utopia e seria a mesma coisa de ignorar o problema. Utopia é o que andam dizendo todos os dias para várias pessoas que desejam passar num curso superior público e de alta concorrência, que não são negras, que não estudaram em instituições públicas, que suas notas não são suficientes, mas seriam perfeitamente acima da média pedida se tivessem mais melanina. Então é isso que estão chamando de justiça? O que é medido nos vestibulares não é mais o desemprenho individual. Deixou de ser. Deixou mesmo. "Precisamos reparar os erros acumulados historicamente". Quando vem a questão de que os cotistas se darão mal lá dentro, vem de rebate que pesquisa x mostrou que as diferenças de rendimento são mínimas dentro das instituições. São? Se são lá dentro por que não são aqui fora? Mais uma parte confusa, não? "Vida confortável na rede particular". Isso é uma generalização absurda! Será mesmo que nessas cabeças tão "abertas" não passa a ideia de que alguns pais deram duro para um futuro melhor para os filhos? Não. Na verdade, não importa o tanto de dinheiro que uma pessoa tenha, no caso, os pais de um indivíduo, quando tal em questão se posiciona no mundo com a ideia de querer algum curso superior, ele vai tender a se negar aceitar o ingresso por meio de um dinheiro que não é seu, e sim do seu pai. E uma das coisas mais frustrantes que vai acontecer é ver que sua nota não vai lhe permitir o acesso, simplesmente, porque ele nasceu branco. Nesse momento você me taxa de racista, mas eu vou dizer mais uma vez: o erro está na base. E quanto mais a tentativa for de consertar as arestas mais próximas ao topo, só vai existir desmoronamento.