O novo jornalismo, iniciado nos anos 60,
surgiu com o escritor e jornalista norte-americano Truman
Capote com o objetivo de implantar um molde mais lírico, sem alteração de
realidade, às reportagens, ou seja, realizar uma não-ficção criativa e libertar
os jornalistas nos seus próprios textos, substituindo as normas pelo estilo.
Era
minha opinião que a reportagem poderia ser uma arte tão elevada e requintada
quanto qualquer outra forma de prosa — o ensaio, o conto, a novela. (Capote
em Novo Jornalismo, 2000).
Nessa época, que antecede a
era digital, o impresso conseguia reinar. Não é preciso relatar as dificuldades
atuais e do quanto o espaço dos textos em jornais são cada vez mais valiosos,
porém, até hoje, muitos escritores dedicam-se a produzir textos para jornais
como crônicas, artigos e até mesmo algumas reportagens no estilo mais narrativo.
Os romances de não-ficção
também têm início nessa época derivados das longas matérias. O perfil foi um
dos gêneros mais explorados nesse período, diferente das entrevistas de hoje,
no Novo Jornalismo, o repórter tinha que acompanhar por dias, semanas ou até
mesmo meses, o entrevistado e fazer as anotações com a própria caneta.
Como destaque nesse
movimento, temos a revista New Yorker que tem um perfil nesses exatos moldes:
“O Segredo de Joe Gould”, de Joseph Mitchell.
Joseph, com seu estilo de
descrever fielmente sem impor cansaço à leitura, escrever fluentemente, tomando
cuidado com cada palavra e ao mesmo tempo conseguir aplicar leveza ao texto, conseguiu
servir de modelo para muitos jornalistas posteriores.
O
Segredo de Joe Gould expressa todo o estilo de Joe e também o do
Novo Jornalismo. Resultado de uma super apuração jornalística de anos de
convivência entre entrevistador (Joseph) e entrevistado (Gould), a obra pode
ser considerada uma leitura fundamental para qualquer curso de Jornalismo.
Composto por dois perfis,
escritos em anos diferentes, “O Professor Gaivota”, 1942, e “O Segredo de Joe
Gould”, de 1964, o livro demonstra passo a passo a intenção do autor ao juntar
os perfis que, embora no começo, a segunda parte possa parecer apenas uma
revisão da primeira, ao término da leitura, é claramente visível que a união foi totalmente necessária para o
compreendimento e para a revelação do segredo.
Outra característica de
Mitchell que é apresentada no livro é, justamente, o tempo de 22 anos levado para
a escrita da segunda parte: a lentidão da conclusão de seus trabalhos. Após a
conclusão do perfil de Gould, Joe nunca mais escreveu trabalho nenhum.
O Novo Jornalismo foi uma
forma de juntar a literatura e o jornalismo, de um lado a doçura e mil e uma
cores podendo ser aplicadas, do outro, obras cruas e diretas. Há sempre
discussões de que eles nunca se misturaram, uns consideram que sim, outros que
não, porém, para se ter qualquer opinião sobre, é necessário ter conhecimento
de obras compostas com os devidos estilos e, mais uma vez, O Segredo de Joe
Gould é indicado, não só para os campos jornalísticos, mas para qualquer um que
goste, pelo menos, de ler.