Diálogos Reais I

- Tá passando?
- Não sei responder. Faça outra pergunta.
- Ainda dói?
- Dor não dói.
- Dor dói. Dói tanto que a gente resolve deixar de lado, e esquecer de sentir, porque deixar sentir é se entregar, por mais que se queira fugir.
- Não sei o que é "passando". Não sei o que significa "passar". Se for esquecer, se for nunca lembrar, não passou. Mas se for querer morrer cada vez que lembrar, sim, passou. Se for a última coisa a pensar antes de dormir, sim, passou. Se for desejar a todo custo, sim, passou. Se for a primeira coisa a vir a mente quando se pode desejar algo, tipo um pedido a uma estrela, sim, passou. E o que é doer? É aquela dor maluca que eu sentia de verdade no peito? É a garganta travando? Passou.
- Então passou.
- Já não é o que eu mais desejo. Já não é o que me faz acordar. A única coisa que eu ainda peço com força em relação a isso é que eu continue mantendo distância, porque de uma vez por todas, isso não me faz bem, e hoje eu vejo isso. Eu deveria ter visto nos cinco meses de ausência que me foram entregues, mas não vi. Fui viver a vida loucamente como qualquer desesperado, mas hoje não. Eu perdi muita coisa. Muitos amigos. Chances. Mas eu nem me arrependo. Aliás, lógico que eu me arrependo, mas dentro do possível. E enfim, só quero continuar longe, mesmo perto, porque, sim, nós estamos mais longe do que nunca estivemos antes. Pelo menos eu estou. E não vou responder a mensagem. E, bom, coloco ele na minha cabeça em todos os espaços que ela ocupava... Eu falo demais.
- Por que fala demais?
- Porque você queria saber. E acho que eu também.

Com D.F.