- Eu te amo.
- Ouvi dizer que o amor é algo muito bonito... Boa sorte!
                Partiu do mais inesperado momento um “não sei mais o que sinto por você”. Depois de um ano e metade e mais um, ela se viu deparada a encarar o fato da dúvida de seu amado pelos seus sentimentos. Se há dúvidas, sequer uma, não há exatidão. E se havia deixado de existir, pior ainda. Então, de fato, ele não a amava. Tal conhecimento lhe era entregue sem desvio algum, porém, como uma “guerreira do amor” -ou pelo menos do próprio amor- ela lutava para ter os “dias de glória” de volta. Coitada, não havia aprendido muito bem o significado de “glória”.
                Fez o que pode e o que nunca imaginou fazer por dias, semanas. Exagerou, chorou, cuidou, brigou, guardou, bateu o pé, fingiu ignorar. Fez de tudo e não obteve nada - nada do que queria, pelo menos.
                Chorou por noites inteiras, perdeu peso e ganhou idade.
                Foi embora. Fugiu se queres assim, ela fugiu mesmo. Passou pouco tempo perdida no mundo e mudou a direção dos trilhos com as próprias mãos, tendo que suar com o peso. Ainda amava, mas o que ela ainda podia fazer? Nada.
                Foi perdendo a clareza das coisas, desacreditando no tal amor, não conseguia gostar de verdade de alguém. A típica história de esfriar depois de uma longa queimação. Ficou assim involuntariamente, mas não tinha interesse em mudar.
                Resolveu dar uma chance para o futuro, para o seu futuro. E se não tivesse com quem dividi-lo quando ele chegasse, ela o doaria.
                Depois de algum tempo, que nem ela mesma sabia o quanto, reviu o causador dos seus danos – embora ela insistisse em dizer que ninguém causou aquilo senão ela mesma.
                Conversaram sobre qualquer coisa e ela não foi nada além de si.
                - Eu te amo. – Ele disse sem saber que estava dizendo.
- Ouvi dizer que o amor é algo muito bonito... Boa sorte! – Ela disse sabendo que nem nos mais distantes universos teria pensado em dizê-lo.

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