Algumas coisas são minhas. E só minhas.

Estou sentindo muitas delas. Não sei quantas exatamente, não me atrevo a contar. Estou sentindo todas ao meu redor, prontas para mergulhar em mim. Não me esforço para impedi-las e elas também não reagem. Não as enfrento e nem as contorno. Elas permanecem fora. Fora de mim. Reconheço que elas podem entrar dentro de meio segundo, mas, de uma forma bem estranha, isso não me assusta. Nem um pouco. Sei que pode ter sido o cansaço ou o aconchego que fui buscar e sei mais ainda que esse segundo pode me viciar. O que não seria ruim. Por um lado, apenas. Eu sei o que elas causam, eu sei por onde elas me levam, o que me fazem pensar e do que me fazem temer. Estão todas ao meu redor, mas pela primeira vez em mais de um ano, nenhuma consegue entrar. 
E agarro um minúsculo fio - com força para não perdê-lo, mas sem muita para não quebrá-lo - para que isso permaneça assim. Seguro na minha mão e dou o primeiro passo. Eu sei o que isso pode causar como sei também que é só uma probabilidade, que algum milagre ainda pode acontecer. Agora não dá mais para voltar. Bom, isso não é uma verdade. Eu posso voltar, como tantas vezes já voltei do mesmo lugar. E me envergonho dessa fraqueza. Porém, continuo no meu escudo transparente, sem sentir, sem olhar...

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